Se enganando pelos resultados...

13/07/2016 às 08:22.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:16

Frases que versam sobre a imprevisibilidade do futebol, que decantam sua falta de lógica sem paralelos no mundo dos esportes já estão impregnadas no imaginário coletivo. Muitas tornaram-se clichês usualmente recebidos com expressões de enfado e reprovação; por serem óbvias demais, desgastadas em excesso. O curioso é que, embora a ideia de que o futebol seja totalmente peculiar no sentido aqui discutido – “uma caixinha de surpresas”, o “único esporte em que não é tão improvável o pior ganhar do melhor” – mostre-se bem aceita, uma espécie de senso comum, essas mesmas pessoas, quando deparam-se com situações nas quais essa excentricidade se materializa, parecem não saber lidar, interpretar justamente esse caráter atípico do jogo. Nessa esteira, ao invés de apreenderem que muitos resultados estão totalmente descolados da meritocracia, da supremacia, do talento; que o acaso, certa comunhão de circunstâncias são artilheiros tão matreiros quanto assíduos, decisivos, no mundo da bola; que muitas vezes as coisas simplesmente acontecem, imprensa e sociedade, via de regra, não se cansam de sempre querer achar padrões, tendências, explicações em todo e qualquer placar.

Alemanha perde para a França. “Ah, os campeões mundiais já não são isso tudo; nem sei se eram, na verdade.” Bem... Não sei exatamente o que seria “isso tudo”, mas... Sério?! Dizer algo assim por causa desse jogo? Coletivamente, os alemães foram claramente melhores, mais consistentes. Mas o futebol permite que uma equipe dominante, além de falhar no momento do arremate – ou de simplesmente ter azar em algumas situações –, pague pela infelicidade momentânea de um dos seus integrantes que, do nada, num lance sem qualquer perigo, encosta a mão na bola dentro da área – e eu, honestamente, nem apontaria a marca da cal na intervenção de Schweinsteiger.

Num movimento não exatamente igual, mas consideravelmente análogo, é curioso observar várias reações acerca da figura de Cristiano Ronaldo depois do título de Portugal no domingo. Num torneio em que sua equipe não chegou a convencer coletivamente, e no qual o craque esteve longe de brilhar, apresentar regularidade, pelo rótulo do título, e por episódios superestimados em que ele mostrou liderança – e por eles deve ser elogiado, vejam bem –, de repente, “aí sim” o sujeito “provou” para muita gente que é “o” cara; “melhor do que Messi” (não é); um gigante (sem dúvida!). Nem parece que essas figuras entram em campo, sei lá, 60, 70 vezes por ano; há várias temporadas; que há muito a ser contextualizado, colocado no pacote das análises. Para alguns – que pouco acompanham jogos de verdade e com atenção – o parâmetro para o “julgamento final” é uma intimada no companheiro para que ele bata um pênalti, e um erro do rival argentino numa cobrança específica.

E essa coluna não é o contra o excepcional Cristiano Ronaldo. Que em outros momentos, justamente por esses mesmos levianos, era injustamente rotulado, criticado com tons taxativos, por meio de lugares-comuns que se ouve por aí (“só olha para o telão”, “metrossexual”...). Diz muito sobre a pouca capacidade humana de avaliar: o português há anos mostra consistência inacreditável; é inquestionavelmente excelente nas mais diversas searas da sua profissão; tem números monstruosos; e é especificamente por uma competição de um mês, em que ele nem esteve particularmente tão bem, e bastante por méritos superestimados – gritos e reações à beira do campo e com companheiros que, repito, são elogiáveis, sim – que ele, de repente, para muitos, “vira bom pra valer”, “o melhor”, o novo integrante de determinado panteão. “Ah, agora ele me convenceu...”. Sério?! Por “empurrar os companheiros”? Não foi depois de ano sim, outro também, jogando MUITO bem? Vai entender...

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