Rodeios: eu digo não!

24/11/2021 às 18:12.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:19

Nem sempre um político peca por corrupção ou extremismo ideológico. Na maioria dos casos, é pela falta de sensibilidade. E agora, depois de mais de quatro décadas de luta pela causa animal, me deparo com um fato lamentável, angustiante e que desperta em mim os mais tristes e inquietantes sentimentos. Dois parlamentares, no âmbito federal, decidiram lutar pelo fortalecimento do rodeio em nosso país, tornando a prática um esporte e convertendo os peões, pasmem, à condição de atletas.

Vejam bem, deputados: vocês acabam de colocar milhões de cidadãos contra os senhores, por essas indignas atitudes e, dentre eles, brasileiros ativistas da causa, veterinários, cristãos ou aqueles que, de algum modo, se sensibilizam com a dor do outro, seja ele um ser humano, seja ele um ser vivo de estimação. As atitudes aqui constatadas representam um gesto baixo, podre e inescrupuloso. Que o mundo da política aprenda: nós não vamos nos calar a cada medida de retrocesso. Veja 7 razões que justificam a minha negativa a tamanho absurdo:

1) Os rodeios são uma prática cruel. As provas colocam touros, cavalos e outros bichos em situações de estresse físico e psicológico. Eles recebem até mesmo choques elétricos antes de entrar na arena para ficar com medo e entrar gritando, garantindo o “show”.

2) A pior prova é a de laço: ao serem derrubados, os bezerros podem sofrer fraturas e ficar tetraplégicos ou morrer devido a hemorragias. É por isso que projetos de lei, por todo o país, pretendem proibir não o evento em si, mas as “perseguições seguidas de laçadas e derrubadas”.

3) É engano imaginar que o rodeio representa a cultura do campo. Ele não faz parte da nossa tradição. Foi importado dos EUA e não traz nenhum enriquecimento ou aprendizado cultural. Além disso, os eventos poderiam continuar, mas com shows e outras atrações, ao invés de práticas de maus-tratos aos animais.

4) Em 2011, no rodeio de Barretos, um bezerro foi morto. Isso prova que os maus-tratos acontecem. Não se trata de acidente, mas sim de algo que poderia ser evitado. Há tantas opções de entretenimento, então para que continuar com algo que é tão cruel?

5) O acúmulo de pessoas, os níveis de som e iluminação e as próprias condições a que são submetidos os animais antes de entrar na arena e durante a apresentação, por si só, constituem maus-tratos.

6) Os maus-tratos, em qualquer modalidade de rodeio, podem ser muito mais complexos, porque todo o manejo, desde a retirada dos animais do ambiente em que vivem até o retorno ao mesmo, por si só já pode ensejar maus-tratos.

7) Alguns garrotes (bezerros) têm morrido durante o rodeio, anualmente e por todo  o país, porque depois de passar o laço no pescoço do animal o cavaleiro tem de jogá-lo no chão. O animal quebra a cervical, fica sem oxigênio e, às vezes, acaba morrendo. São atividades chamadas recreativas, mas na verdade o animal é maltratado.

Da minha parte, como agente público eleito para representar os sentimentos daqueles que aqui me trouxeram, serei uma voz ativa e muito além do simbolismo. É com firmeza e ações práticas que seguirei lutando, diariamente, contra atrocidades desse tipo, que revelam a mais obscura alma daqueles que não se preocupam com a vida na prática, e sim exclusivamente no discurso e nas palavras de efeito. Eu digo não aos rodeios e assim seguirei na luta. Espero contar com você nessa batalha.

* Deputado Estadual Osvaldo Lopes (PSD/MG)

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