Ônibus sem cobrador é bom só para empresas

24/07/2018 às 20:32.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:34


Permitida por lei no período noturno, em domingos e feriados e nos veículos do Move, a qualquer hora, a prática de algumas empresas de ônibus da capital de colocar veículos para circular sem os chamados agentes de bordo, os cobradores, tem sido adotada cada vez mais de maneira irregular. 

Denúncias dos próprios trabalhadores do transporte, principalmente motoristas, obviamente sobrecarregados sem os auxiliares, e de passageiros foram verificadas pela reportagem deste jornal.

Na Estação Vilarinho, por exemplo, a constatação, ontem, foi de que a maior parte das viagens, de fato, ocorria sem a presença dos cobradores.

Responsável pela fiscalização, a BHTrans informa que tem aplicado seguidas multas aos concessionários. Só de janeiro a abril, foram 285 autuações, 35% a mais que em todo o ano passado. 

Contudo, o valor cobrado por cada autuação ( R$ 652), aparentemente, não tem intimidado os empresários. 

O que é estranho, já que, se levado em conta o salário médio dos agentes de bordo em BH, de R$ 1.040, o total supostamente arrecadado com as multas (R$ 185 mil) – isso, claro, na hipótese de todas terem sido pagas – daria para custear os salários de nada menos que 177 desses profissionais, em um mês.

Além disso, a ausência do responsável pela cobrança nos coletivos traz inúmeros contratempos. Um deles é o atraso nos trajetos, já que, de passageiros que não têm o cartão BHBus, quem dirige os ônibus tem também de receber o dinheiro, contar e devolver troco, a cada parada. 

Também é evidente que a falta de cobradores pode aumentar o risco de acidentes. Afinal, com o trabalho adicional, associado ao estresse normalmente causado pelo trânsito nas grandes cidades, os motoristas tendem a ficar ainda mais cansados, o que prejudica seu desempenho ao volante. 

Se as empresas querem dispensar cobradores em horários não permitidos, para reduzir custos e aumentar lucros, antes disso deveriam investir em sistemas mais eficientes na cobrança de passagens. A meta deveria ser melhorar as condições de trabalho dos motoristas e, claro, de conforto e segurança dos passageiros.
 

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