Brasil tem "epidemia" de cesáreas antes da hora

14/08/2018 às 22:13.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:55

Uma espécie de epidemia, silenciosa e com graves consequências, assola o país e parece cada vez mais difícil de combater, embora as autoridades de saúde estejam se empenhando para tal. Trata-se da realização crescente de cesarianas feitas em momentos considerados inadequados, ou seja, antes que os bebês completem 37 semanas de gestação – os prematuros –-, ou entre 37 e 38 semanas, período no qual, ao nascer, as crianças são chamadas de “termo precoce”. Estudo feito pelas Universidades Católica e Federal de Pelotas (RS), divulgado na semana passada, mostra que, em 2015, quatro entre dez crianças nascidas no Brasil – país que ostenta a segunda maior taxa de cesáreas do mundo, atrás apenas da República Dominicana – tinham menos de 39 semanas de gestação, tempo ideal para o procedimento.  Em 2017, dados preliminares do Ministério da Saúde indicam que 55,75% dos partos no país foram por cesáreas. Mesmo que ainda careça de confirmação, a taxa é maior do que a registrada no ano anterior (55,51%) – algo frustrante, já que a elevação ocorreu logo depois de uma série de iniciativas para tentar reduzir as cesáreas no país. Some-se a isso o fato de que em Minas, apenas este ano, conforme levantamento deste jornal, nada menos que 62% dos partos de bebês prematuros ou precoces foram feitos por meio de cesarianas. Há consenso na comunidade científica de que bebês que nascem com idade gestacional inferior à recomendada, seja por antecipação pedida pelas mães, por motivos variados, seja por desconhecimento de médicos quanto aos riscos de tal prática, têm maiores chances de adoecer.  Sem contar que essas crianças ficam mais sujeitas a problemas de aprendizado, conforme pesquisas internacionais. O que se tem, portanto, é um grave problema de saúde pública, que pode trazer impactos a curto, médio e longo prazos.  A perspectiva, preocupante, é de que números brasileiros, nascidos por cesáreas fora de hora, possam, no decorrer de suas vidas, demandar mais serviços de saúde do que o esperado, apenas porque não se respeitou o prazo adequado para que viessem ao mundo. 

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