Fenômeno antigo sob nova roupagem

07/01/2020 às 19:52.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:13

Tão importante e preocupante quanto a suspeita  envolvendo seis pessoas internadas em hospitais de Belo Horizonte (moradores ou que passaram pelo bairro Buritis), com quadro de insuficiência renal e alterações neurológicas, foi o destaque inicial provocado pelo caso, e a forma como veio a público. Sem comprovações científicas, e contrariando mesmo o que disseram familiares dos pacientes, atribuiu-se o quadro ao consumo de uma marca de cerveja, adquirida em um determinado supermercado. 

Em questão de minutos, os boatos ganharam alcance e, para muitos, tom de verdade – se multiplicaram como a pedra jogada em um lago que gera ondas cada vez mais amplas. Um fenômeno cada vez mais comum numa época de muita informação, de origens difusas e muitas vezes não averiguadas. 

Que acaba por confirmar o dito segundo o qual ‘uma mentira dita muitas vezes se torna verdade’. E que carrega consigo o perigoso potencial de destruir reputações de pessoas e marcas. Um estrago muitas vezes impossível de consertar totalmente, com motivações das mais variadas, da precipitação ao desejo de prejudicar o alvo da informação falsa.

Quem cresceu num ambiente pré-internet, aplicativos de bate-papo e redes sociais certamente haverá de notar um paralelo com um costume de outros tempos. O que se habituava a chamar de ‘telefone sem fio’: uma informação que, a partir da fonte, passava por uma série de mudanças ao longo da cadeia, até chegar completamente diferente (e muitas vezes distorcida) ao extremo oposto.

Tanto mais comum nas cidades menores, em que vigiar e falar da vida alheia acaba sendo fenômeno corriqueiro. Mas de efeito diretamente proporcional ao menor alcance. No máximo, o personagem da fofoca da vez era enxergado com olhares tortos ao passar pela praça central. 

Hoje, no entanto, vive-se numa aldeia global em que as ondas criadas pela pedra no lago atingem dimensões de tsunami. E as consequências negativas de uma informação sem o devido fundamento infinitamente maiores. O que só reforça a importância dos meios que oferecem informação qualificada, resultado de apuração e investigação. Bem como do cuidado ao consumir notícias e tudo o que chega pelas redes.

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