A insistência em desrespeitar a recomendação de adotar o isolamento social (nos casos de quem tem plena condição de fazê-lo) não é o único fator complicador em relação à pandemia de Covid-19 e o risco de explosão do número de casos.
O comportamento de muita gente em todo o mundo – e o fenômeno se repete no Brasil, e mais especificamente em Belo Horizonte –, de correr às compras nos supermercados em busca de estoques de alimentos e produtos de limpeza e higiene também constitui uma ameaça séria.
É necessário lembrar que as cadeias produtivas, mesmo nos países mais afetados pela enfermidade, se mantiveram em ação, sem que se criasse desabastecimento. Especificamente a agricultura se desenvolve com forte mecanização e em condições que não geram aglomeração e, por isso, maior risco. As principais cadeias supermercadistas contam com estoques que permitem manter o fluxo normal de vendas por pelo menos um mês.
Na Austrália, o primeiro ministro Scott Morrison chegou a chamar a insistência dos compatriotas de ridícula e indigna do país da Oceania. E lembrou que ela provoca estresse desnecessário, além de criar um risco extra de transmissão da Covid-19 com as aglomerações que tanto se tenta evitar.
De nada adianta ter alimentos em casa e engrossar estatística tão preocupante, tendo de sobrecarregar o sistema de saúde. Entende-se a intenção de reduzir o número de idas aos supermercados, mas não a de disputar quase aos tapas um fardo de papel higiênico, uma embalagem de álcool gel ou de óleo de soja.
O que vem ocorrendo nos demais países que sofreram primeiro as consequências da doença deve servir também de ensinamento. Não se determinou (e nem se cogita) fechar supermercados, e continua havendo oferta de produtos. Se alguns em menor quantidade (ou em falta), contingência de um momento delicado. Mas, de forma alguma, justificativa para a única real histeria envolvendo o novo coronavírus. A solidariedade passa também por maior responsabilidade e tranquilidade nas compras.