Marcas inesquecíveis de uma tragédia

24/01/2020 às 18:27.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:25

Uma sexta-feira, 25 de janeiro. O começo da tarde trouxe as primeiras notícias do que viria, em seguida, a ser confirmado como a maior tragédia ambiental da história de Minas Gerais. O rompimento de uma barragem na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, trouxe um rastro de morte e destruição, que iria muito além da região inicialmente atingida.

A lama tóxica ceifou vidas (259 vítimas fatais foram resgatadas dos destroços, outras 11 seguem desaparecidas); interrompeu histórias e sonhos, dizimou culturas agrícolas; desalojou, destruiu, tirou sustento, patrimônio conquistado com suor.

Um ano depois, as investigações sobre as causas da tragédia sugerem dolo, revelam negligência e incapacidade de gerir uma situação de risco. Algo tanto mais grave considerando que as lições de situação semelhante, ocorrida quatro anos antes, em Mariana, deveriam ter sido assimiladas, e não o foram. Tanto assim que, ainda hoje, existem barragens sob risco – em cidades como Barão de Cocais ou Nova Lima (Macacos) as sirenes de alerta foram ouvidas desde então com recorrência preocupante.

Não se trata de demonizar uma atividade econômica tão importante, base da arrecadação de tantos municípios mineiros e raiz mesmo do surgimento do Estado, a ponto de lhe oferecer o nome. Fica claro, no entanto, que muitos de seus métodos e procedimentos se mostram obsoletos e perigosamente contraindicados.

Cumpre garantir condições dignas de vida para aqueles que ficaram; recuperar e reconstruir as áreas degradadas; garantir que eventuais responsáveis sejam exemplarmente punidos; fazer com que as lições sejam efetivamente aprendidas e adotadas. Não é possível conceber que, depois de Mariana e Brumadinho, viva-se a funesta expectativa de uma próxima ocorrência; tenha que se contar novas vítimas, perdas, efeitos que podem se arrastar por quilômetros.

Que tantas vidas, sonhos, histórias que se foram, arrastados pela lama, sirvam para marcar um novo paradigma. Não há como deixar de reconhecer e exaltar o trabalho anônimo de bombeiros e pessoal de resgate que, um ano depois, seguem em suas missões; dedicam força e empenho para que ao menos as famílias tenham a certeza do desfecho daqueles que se foram. 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por