O risco preocupante dos preços em alta

09/09/2020 às 20:16.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:29

O cenário econômico inicial da pandemia fazia supor um quadro recessivo, o que teoricamente poderia levar os setores produtivos a reduzir preços. Afinal, menor é a quantidade de dinheiro em circulação, o que impacta diretamente numa regra básica do consumo: a da oferta e procura. Se a segunda diminui, a primeira gera formação de estoques, freia as máquinas, compromete estimativas e planos. Não é o que se verifica, no entanto, em vários setores.

No agrícola, as explicações já são mais do que conhecidas e, infelizmente, plausíveis. Com a alta do dólar e a procura de grandes mercados internacionais, carnes e cereais se tornam muito mais interessantes para o produtor se exportados. A China ainda passou por uma peste suína que reforçou a necessidade de compra da carne do animal em outros mercados. No caso específico do leite, um fenômeno inverso: a concessão do auxílio emergencial acabou por aumentar a demanda, num cenário de entressafra. Trazer de fora a quantidade necessária para normalizar o abastecimento se mostraria economicamente inviável.

Agora, verifica-se situação semelhante na construção civil. Dos poucos setores que conseguiram passar pelo pior da pandemia não apenas sem registrar queda em suas expectativas, como ainda vivendo um momento de pujança. Se por um lado gera-se empregos, segue-se criando novos empreendimentos e é possível ajudar a puxar a retomada econômica, por outro, os insumos registram elevação preocupante. E bastante superior à média dos preços, num cenário inflacionário ainda sob controle, apesar das ameaças recentes.

Nos dois casos, assim como em outros, cria-se condições perigosamente propícias para a piora de um cenário que dá sinais animadores de recuperação. Ou o preço a pagar fica mais caro, e aumenta o peso no bolso do consumidor; ou, no extremo oposto, opta-se por não comprar, o que pode frear a boa fase dos respectivos segmentos. Felizmente o país vive nos últimos anos a realidade das agências reguladoras em diversas áreas, que ajudam a conter abusos e a manter patamares razoáveis. Por outro lado, há atividades que prescindem de tal controle, agora, mais do que nunca necessário. Se vigem os preceitos da livre concorrência e iniciativa, cabe agir de forma firme para evitar desequilíbrios nocivos. Não se trata apenas de pedir boa vontade e colaboração. Algo que, pelo que se vê, anda em falta não só nas prateleiras.
 

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