Se não puder ajudar, não atrapalhe

23/03/2020 às 21:07.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:03

Se o momento atual permite alguma certeza, é esta: serenidade é essencial para enfrentarmos o que está por vir. O noticiário que chega de outros países devastados pela Covid-19 já nos deixa de cabelo em pé quando projetamos uma cenário minimamente semelhante no Brasil – onde o Sistema Único de Saúde (SUS), que desde sempre merece ser valorizado, pode estar diante de seu maior desafio desde que foi instituído, por meio da Constituição de 1988. 

Não é preciso ser pessimista para pensar que há chance de que as mortes, por aqui, sejam mais numerosas do que as registradas na Itália, país desenvolvido que já conseguiu superar a China, onde tudo começou, em óbitos. Infelizmente, parece ser uma questão matemática: somos 200 milhões de habitantes, contra os 60 milhões da nação europeia. 

É claro que, se fosse só isso, a China, com quase 1,4 bilhão de moradores, teria realizado muito mais velórios. No entanto, parece que o comportamento da pandemia por aqui tem mais similaridades com o verificado no Velho Continente. E a nossa capacidade de resposta aos casos graves, infelizmente, também pode não estar à altura da verificada do outro lado do mundo, onde um hospital chegou a ser erguido em dez dias – ainda que a estratégia não tenha sido bem-sucedida, é prova inquestionável da organização e facilidade para realocação de recursos do gigante asiático. 

Por tudo isso, preocupa-nos muito – ou deveria – o fato de brasileiros insistirem em criar falsas notícias ou alarmismos sobre a pandemia e o quadro nacional, como se precisássemos aumentar um pânico que já é real. No domingo, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que participava daquela coletiva em específico, num dia em que deveria estar de folga, principalmente para desmentir um áudio atribuído a ele e que correu o WhatstApp. Negou a autoria e o conteúdo da fala. 

Ontem, foi a vez de um boletim de ocorrência, feito pelo gerente de uma funerária para registrar a chegada de 23 corpos, em 72 horas, de pessoas que teriam morrido por problemas respiratórios e pneumonia na Grande BH, ser contestado pela própria empresa. A justificativa da firma era a de que o número estava dentro da normalidade. Antes disso, claro, o conteúdo do B.O. levou ao desespero um sem-fim de leitores. Diante disso, o que reforçamos é a importância de sermos responsáveis neste momento, até porque um desmentido não irá, necessariamente, alcançar quem viu a primeira notícia. Mais do que nunca, se não puder ajudar, ao menos não atrapalhe. 
 

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