Todos são vítimas do sistema

24/04/2017 às 19:38.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:16

Mais do que um soco na boca do estômago, a revelação da Secretaria de Estado de Segurança Pública de que exatos 47.275 menores de idade foram conduzidos pela polícia mineira no ano passado, após cometerem alguma infração, escancara o tamanho do problema que temos pela frente. Isso é mais do que a população de 797 municípios mineiros. É como se, em um ano, o total de habitantes de uma cidade do porte de Santos Dumont, na Zona da Mata, entrasse em conflito com a lei. 

As infrações são as mais variadas. A lista é encabeçada por tráfico, seguido pelo consumo de drogas – tipificado como crime entre adolescentes, mesmo que o entorpecente seja para uso próprio – e furto. 

Para quem acompanha o noticiário policial, não é difícil estabelecer uma relação entre os três, mostrando a fragilidade do sistema que deveria proteger esses jovens. Os que não são cooptados para trabalhar no tráfico, “oportunidade” comum em um cenário de pobreza e/ou de falta de perspectivas, muitas vezes tornam-se usuários de drogas. E para sustentar o vício, parte deles começa a roubar. 

O assassinato do turista em São Tomé das Letras, no feriado, cometido por adolescentes, mostra o que muitos de nós teimam em não ver: a violência está mais perto do que imaginamos. Em um piscar de olhos, podemos nos tornar vítimas desse sistema que exclui jovens, especialmente os negros, das (boas) escolas, do mercado de trabalho, da chance de lutarem por uma vida mais digna. 

Nessa hora, o problema cresce, e a ameaça também. Se temos 143 adolescentes flagrados, por dia, cometendo algum tipo de delito, há também 143 jovens que deveriam ter a oportunidade de recuperação e reinserção na sociedade. Difícil é acreditar que isso esteja acontecendo. Quantos são reincidentes? Quantos desses, apreendidos ou condenados ao cumprimento de medidas que não são privativas de liberdade, conseguirão de fato dar novo rumo à vida?

Tempos atrás, um juiz da Infância e da Juventude disse ao Hoje em Dia que cada infrator de hoje certamente teve algum direito – à educação, à família etc – violado no passado. A torcida, portanto, é para que a solução desse problema social comece na primeira infância, a tempo de assegurar que tenhamos mais esperança quanto ao futuro desses brasileiros. 

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