Transformar a dor em gesto solidário

27/04/2018 às 22:48.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:34

Embora o setores de saúde público e privado invistam na estrutura hospitalar para realização de transplantes, a negativa das famílias em doar órgãos das vítimas de morte encefálica ainda impede que milhares de vidas sejam salvas no Brasil. De acordo com dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), de todas as mortes encefálicas, em que os órgãos poderiam ser transferidos para pacientes, pouco mais da metade se converte em doação.

A subnotificação dos casos de morte encefálica e o pouco preparo dos profissionais de saúde para conscientizar as famílias sobre a importância deste gesto de solidariedade também são apontados como empecilhos para a captação dos órgãos. O resultado é aumento da fila de espera e do sofrimento de quem depende de um coração, um rim, um pulmão ou outro órgão “novo”. Embora tenha ocorrido um aumento de 75% no número de doadores de órgãos no país de 2010 para 2017, a fila de espera ainda é extensa. De acordo com dados do Ministério da Saúde, mais de 40 mil pessoas amargam este sofrimento. 

O reduzido número de famílias a autorizar a doação de órgãos ameaça jogar por terra investimentos que o governo federal tem feito na área. Intervenções de altíssima complexidade, os transplantes só podem ser feitos por equipes extremamente capacitadas e em hospitais capazes de assegurar ao máximo o sucesso da delicada operação, cujo resultado ainda dependerá da aceitação do órgão pelo receptor. Portanto, é lamentável que, apesar da sensibilidade do governo federal para investir justo nesta área, tamanho investimento acabe sub-aproveitado pela falta de informação ou colaboração dos parentes de um possível doador. 

A Santa Casa de Belo Horizonte, uma das referências no assunto no Estado, passa a oferecer em julho dois novos procedimentos: os transplantes de coração e ossos. Muitas famílias se negam a colaborar por crenças ou alegando que estariam desrespeitando a vítima de morte encefálica, que não teria manifestado, em vida o desejo de ser doadora. Portanto, é preciso vencer esse tabu e falar abertamente sobre essa intenção. Só assim outras vidas serão salvas, confortando outras famílias. 
 

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