Sofrimento e glória

25/09/2016 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:57

Olá amigo da cozinha,

Hoje falo especialmente para os jovens alunos da escolas de gastronomia de Minas Gerais, que depositam nesta carreira cheia de glamour e sofrimento seus sonhos de se tornarem grandes profissionais e contribuírem para o desenvolvimento econômico e social de nosso Estado, de nossa cultura e de nossa história.

Dando sequência ao assunto polêmico da semana passada sobre a importância da academia na formação de bons profissionais de cozinha, e de todas as vertentes que envolvem a profissão de gastrônomo, faço a seguir mais algumas ponderações.

A participação de alunos das escolas de gastronomia em eventos das mais diversas naturezas que movimentam o mercado está sendo, já há algum tempo, colocada em xeque por alguns profissionais do setor.

Segundo informações colhidas entre alunos e professores de algumas faculdades, existe um triste histórico de gestores, coordenadores de curso e até de professores que têm reiteradamente questionado a participação de seus alunos em eventos como auxiliares de chefs, em cozinhas-show, jantares, dentre outros, afirmando que essa prática não acrescenta nada ao currículo dos jovens aprendizes, além de considerarem como exploração de mão de obra.

Mais uma vez, amigo, repudio veementemente essa postura, especialmente se avaliarmos o que acontece neste segmento em todo o canto, nos principais países e escolas que existem no planeta. 

Além, é claro, de fazermos alguns paralelos a determinadas profissões que exigem muito conhecimento, observações e experimentações para se credenciar a um lugar de destaque.

Assim como acontece em hospitais, nas mais diferentes carreiras de medicina e outras profissões correlatas, há casos de grandes restaurantes pelo mundo, com filas quilométricas de voluntários para literalmente ralar várias horas neste ambiente inóspito como é a cozinha, simplesmente para adquirir experiências que serão fundamentais para suas escolhas futuras.

Desde que tomei conhecimento de alguns destes casos mais próximos comecei a entrevistar alguns alunos e também outros profissionais que, assim como eu, já viveram esta experiência de serem “explorados” com “trabalho escravo”, como sugerem esses artistas. 

E põe escravo nisto, amigo, pois, sem CLT, sem refeições regulares, sem qualquer remuneração e até sem dormir, esse sofrimento todo às vezes é compensado apenas por um breve tapinha nas costas ou um simples merci proferido pelo mestre ou pelo ídolo nem sempre acessível.

Quase unanimidade entre os entrevistados é o grande prazer que esse “sofrimento” lhes traz, além de um sentimento de alegria e de crescimento e especialmente de gratidão pela oportunidade oferecida.

Portanto, amigos e futuros profissionais, não costumo ser radical com aqueles que pensam diferente, mas, nestes casos, não posso deixar de ponderar que, entre a exploração desta mão de obra e os benefícios por ela alcançados, as experiências justificam o sacrifício. 

Sigam seus caminhos, busquem seus sonhos e saibam com bom senso evitar que esses temperos ou destemperos desagradáveis contaminem suas receitas de um futuro de sucesso, seguro e embasado especialmente em diferentes e nem sempre fáceis experiências. 

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