2020: o que fica para a educação?

30/12/2020 às 16:00.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:26

Léo Miranda*


Uma tradição nos finais de ano é a de rever os acontecimentos mais marcantes que construíram as narrativas que contarão para as gerações futuras o que se passou no ano que se encerra. É o momento, portanto, de “olhar para trás”, daí a origem do termo retrospectiva que muitas vezes entoamos de forma pouco reflexiva, como se o ano fosse um amontoado de eventos desconexos, que agora guardamos em uma caixa e a etiquetamos: 2020. Contudo, dessa vez creio que a etiqueta que descreve a “caixa” desse ano vai precisar de mais detalhes. 

A sucessão de eventos é tamanha que é até difícil organizá-la, mas talvez o ponto de partida seja o anúncio da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o início da pandemia da Covid-19 em 11 de março. Naquele momento não sabíamos ao certo o que isso significaria, para muitos parecia mais um evento infeccioso como tantos outros que tiveram início na Ásia, mas que logo passaria. Pois é, não passou. Para alunos, professores e famílias, não houve muito tempo para refletir sobre os acontecimentos. Todos foram chamados a ação quase que imediata, pois diante do quadro de um vírus que se propaga pelo contato físico, as escolas tornaram-se espaços a serem evitados. 

A mudança das aulas presenciais para as aulas onlines quase do dia para noite exigiu muita resiliência de todos, mas principalmente organização para gerenciar demandas de um mundo que para muitos se descortinava antes do esperado. Contudo, para além da desorganização, foi escancarada o despreparo estrutural e principalmente político do país. A falta de coordenação e recursos no âmbito nacional, estadual e municipal lançou os mais 45 milhões de estudantes do ensino público no completo limbo. Os professores fizeram o que podiam, com várias iniciativas próprias, assumiram o vácuo deixado pelo Estado brasileiro em todas as esferas. Apesar disso, nem todos alunos foram alcançados, mas sim alijados do ensino online pelas mais diversas situações, principalmente pela falta das condições materiais necessárias, ou simplesmente porque tiveram de abdicar dos estudos em prol do sustento de suas famílias, principalmente em virtude do desemprego de seus pais. 

Ao mesmo tempo, durante a pandemia vimos crescer situações que evidenciam os séculos de atraso escolar do nosso país. O crescimento do obscurantismo, da descrença na ciência, da desvalorização do conhecimento e da busca por ele. Tudo isso somado resultou em uma grande capacidade de criar não só notícias falsas, mas principalmente de acreditar nos diversos absurdos que alimentaram as redes sociais durante boa parte dos dez meses em que pandemia se fez presente em 2020.  Em resumo, esse ano deixa como legado a percepção que demos um passo atrás, mas sem nenhuma certeza de que iremos dar dois a frente. No resta então o mesmo que fazemos todos os anos no dia 31 de dezembro à meia noite, desejar que em 2021 consigamos dar ao menos um passo em direção a mudança de tudo aquilo que nos atrasa e nos separa.

(*) É professor de Geografia, graduado e mestre pela UFMG. Também é fundador do canal educacional Mundo Geográfico

  

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