8 de março: o que temos para comemorar?

12/03/2021 às 07:14.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:23

Leonardo Miranda*

Celebrado no dia 8 de março, o Dia Internacional das Mulheres é carregado de simbologia e significados que estão muito além da celebração em si. No Brasil, em plena pandemia da Covid-19, por exemplo, o número de subnotificações de violência contra mulheres aumentou substancialmente, principalmente aquelas de origem doméstica, já que os agressores passaram a estar a maior parte do tempo no mesmo espaço que as vítimas, o que comprometeu as denúncias. Um estudo do site G1, Núcleo de Estudo da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontou que somente no primeiro semestre do ano passado 1.890 mulheres foram mortas de forma violenta, um aumento de 2% em relação ao mesmo período de 2019.

O cenário de crescimento da violência contra mulheres no contexto da pandemia reforça um triste histórico que inclui também a violência simbólica, como aqueles percebidos na educação. No Brasil as mulheres passaram a ter a possibilidade de ingresso no ensino escolar público apenas em 1827, quando uma legislação para esse fim foi criada. Antes disso, apenas mulheres de famílias mais abastadas tinham o acesso garantido às escolas. Contudo, mesmo com a lei em vigor, o ensino ainda as segregava, pois o problema já não era mais o acesso, mas sim o que era ensinado. Um conjunto de normas e padrões patriarcais que as condicionavam à posição de mulheres da casa, saberes restritos a como mantê-las longe de qualquer tipo de emancipação.

Em contexto mais recente, os dados sobre a situação ocupacional feminina mostram uma prevalência delas nos cargos públicos no Brasil, o que está diretamente relacionado ao tempo maior de estudo do que os homens. Segundo o IBGE, entre homens com 25 anos ou mais 13,5% têm ensino superior, enquanto 16,9% das mulheres completaram uma graduação. Os dados permitem concluir que as medidas de redução de gênero têm repercutido positivamente. No entanto, a maior escolaridade feminina está diretamente relacionada à dificuldade de inserção das mulheres no setor privado quando comparado aos homens, que mesmo com menor escolaridade são maioria no mercado de trabalho, como também possuem remuneração mais elevada.

Apesar dos avanços no acesso a escolarização ao longo das últimas décadas, as mulheres ainda enfrentam contextos que comprometem diretamente o sucesso escolar, todas elas ligadas de alguma maneira a desigualdade histórica de acesso as mesmas oportunidades do que os homens. Muitas abandonam os estudos para se dedicar as tarefas de casa ainda enquanto jovens, para que assim seus pais possam trabalhar. Outras têm a suas trajetórias escolares interrompidas pela maternidade solo, quando sem apoio e sem escolha aumentam as taxas de evasão escolar. Então, o que celebrar no dia outo de março? Para além das conquistas já obtidas, a necessidade da reflexão e da ação para que outras tantas conquistas necessárias não sejam esquecidas.

(*) É professor de Geografia, graduado e mestre pela UFMG. Também é fundador do canal educacional Mundo Geográfico

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