A receita para acabar com o aborto no Brasil

19/08/2020 às 21:40.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:19

Marcelo Batista (*)
mbatista@hojeemdia.com.br

A história da menina de dez anos que ficou grávida após ser estuprada pelo tio está presente em todos os veículos de comunicação. Nesta semana, a mídia tem repercutido o caso ocorrido no Espírito Santo para tratar sobre a questão do aborto, mas muitos esquecem de discutir sobre um ponto também fundamental nesse contexto: a educação sexual. O procedimento de interrupção da gravidez foi bem sucedido, mesmo que contestado pelos mais conservadores. O tio, que abusou da menina por quatro anos, foi preso em Betim e em breve o assunto cairá no esquecimento. Mas o que pode ser feito para evitar que situações do tipo continuem ocorrendo no nosso país? 

Uma questão fundamental que deve ser percebida é que no nosso país há um grande tabu para se discutir sobre sexo. A família, de uma maneira geral, é relutante para educar sexualmente uma criança, que muitas vezes cresce sem entender muito bem como o corpo funciona e sem ter a noção de pertencimento em relação a ele. Há, no Brasil, uma tentativa de manter um “segredo” a respeito da sexualidade e muitas vezes um “jogo de empurra” entre a família e a escola, para ver quem vai tratar sobre o assunto.

Mas quem conversaria sobre sexo com uma criança com idade entre 6 e 10 anos? Não seria muito cedo? Não! Na Holanda, por exemplo, a discussão sobre o assunto começa aos quatro anos de idade e a abordagem vai mudando para se adequar ao processo de amadurecimento do estudante. É claro que no início do processo a discussão não trata do sexo de uma maneira efetiva, mas sim de comportamentos que podem ou não ser tolerados, sobre a importância de uma criança saber que o corpo é dela, somente dela. A partir dessa noção fica mais fácil uma criança se manifestar caso a barreira seja rompida por parte de qualquer adulto próximo, fica mais fácil pedir ajuda e conversar sobre a situação.

E os benefícios da educação sexual não ficam por aí. Na maior parte dos países em que ela é obrigatória há a redução nas situações envolvendo também as IST (infecções sexualmente transmissíveis), como a aids, sífilis e HPV. Não por mera coincidência, países como a China e Índia, que não têm a obrigatoriedade do tema em sala de aula começam a amargar aumentos consideráveis em seus índices de IST. 

Infelizmente, no Brasil as discussões e as campanhas sobre a sexualidade tentam muito mais passar um caráter proibitivo a um processo natural e até mesmo sugerir uma proibição do ato, com defesa à abstinência, mas os países mais desenvolvidos mostram que o caminho não é por aí. Já passou da hora de pararmos de discutir sobre o aborto e de tratarmos de uma discussão mais importante: como evitar o abuso sexual? Como evitar a gravidez precoce? Como evitar que crianças sofram, por anos, abusos sexuais em silêncio? A educação sexual é, sim, a melhor maneira de acabar com o aborto e com vários outros problemas aos quais crianças são diariamente submetidas.

(*) Marcelo Batista é educador há mais de 15 anos e fundador do canal Aprendi com o Papai, no Youtube.

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