A semana decisiva para o Enem 2020

13/01/2021 às 21:10.
Atualizado em 05/12/2021 às 03:55

Léo Miranda*

No dia 8 de julho de 2020 o Ministério da Educação (MEC) anunciou uma nova data para realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Após uma consulta online com estudantes, cujo resultado foi ignorado pelas autoridades do ministério, as provas foram adiadas para os dias 17 e 24 de janeiro de 2021, no caso da prova presencial. Naquele momento julgava-se que as datas determinadas seriam a prova da Covid-19, algo seriamente duvidoso diante da imprevisibilidade da doença. O mais intrigante é que já em julho de 2020 os países europeus começavam a apresentar o início da segunda onda de contaminação, o que foi ignorado pelos gestores do país. Já era de se esperar que até mesmo a nova data do Enem poderia ser flexibilizada, mas ao que parece essa possibilidade de fato nunca existiu. 

Chegamos então a janeiro de 2021, com mais de oito milhões de casos confirmados e duzentos mil mortos pela doença. O cenário terrível de expansão da Covid-19, corroborado pelo próprio comportamento de uma parcela da população, trouxe insegurança, ansiedade e temor entre os estudantes sobre um possível adiamento da prova. De fato, essa possibilidade deveria ter sido levada em conta quando foram estabelecidas as datas, mas para evitar atrasos ainda maiores o MEC cercou-se dos argumentos logísticos e de custos. Aplicar uma prova como o Enem em um país do tamanho do Brasil para mais de 6 milhões de pessoas realmente não é nada fácil e barato, mas empregar os argumentos operacionais como justificativa para o não adiamento soa quase como algo pensado. 

Pior ainda é entoar o mantra que todas as medidas de proteção serão tomadas.  Esse argumento ignora o mundo externo ao considerar que a medidas de proteção adotadas dos locais de prova para dentro serão suficientes. Por exemplo, como fazer com o cenário de estudantes aglomerados do lado de fora dos locais de provas antes da abertura dos portões? E no caso daqueles que se deslocaram em ônibus lotados até esses locais? 

Do lado dos estudantes é totalmente compreensível a ansiedade e a afirmação que a prova não deveria ser adiada. Eles estão cansados, assim como todos os profissionais da educação (inclusive os professores). Ao mesmo tempo são vítimas da desorganização governamental que vigora no país, em que planejamento parece nunca ter existido. Estamos seguindo ao pé da letra o “deixa a vida me levar, vida leva eu”, o que no cenário pandêmico fez com 49% dos estudantes inscritos para o Enem pensassem em desistir da prova, de acordo com a pesquisa “Juventude e Pandemia do Coronavírus”. Apesar da pesquisa não detalhar os dados, possivelmente a maioria deles são estudantes de escolas públicas, destituídos das condições materiais necessárias para o estudo digno, ou mesmo que tiveram que abandonar os estudos para ajudar seus pais a compor renda com algum trabalho.

Em retrospectiva, a semana decisiva para o Enem 2020 resume bem o que foi a educação brasileira nos últimos onze meses.

(*) É professor de Geografia, graduado e mestre pela UFMG. Também é fundador do canal educacional Mundo Geográfico

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