A volta

30/06/2021 às 18:04.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:18

Léo Miranda

Vinte e nove de junho de 2021, acordo às cinco e quarenta da manhã, desperto com facilidade tamanha a ansiedade do que estava por vir no restante do dia, equiparada apenas ao dia da primeira dose da vacina contra a Covid-19. Coloco a água para ferver e preparo o café para esquentar a manhã fria do inverno belo-horizontino. Café passado, checo todos os itens necessários para as próximas horas, os principais deles a máscara e o vidrinho de álcool gel. Tudo certo! Saio de casa às seis horas e já de olho no trânsito, normalmente nesse horário sempre bastante movimentado, mas até que não estava, e para falar a verdade se tivesse também não seria problema, se tem algo que treinei durante todo esse período de isolamento foi a paciência.

Chego à rua em que normalmente paro o carro, a rua Juiz de Fora, e para meu espanto ela estava praticamente vazia. No passado eu ficaria rodando alguns minutos até achar uma vaga com rotativo de 5h, até porque o de 2h não seria o bastante. Passaria a manhã toda presencialmente fazendo o que até então fazia apenas à distância. No caminho da rua até a entrada do colégio, as memórias de todas as vezes que encontrei a calçada cheia de estudantes, alguns com pressa, outros nem tanto. Como um filme, as cenas se passavam na minha cabeça e o sentimento de ir para o lugar onde fazia quase todos os dias o que escolhi como profissão também. Mas havia um porém, agora pairava a dúvida e o receio do que iria encontrar. Como estaria tudo? Como seriam as aulas? E a interação com os alunos?

Ao entrar no colégio, percebo que tudo está devidamente preparado, álcool, tapete sanitizante, sinalizações nos corredores, entre outras coisas relacionadas aos protocolos da prefeitura. Sigo então para pegar o material que foi disponibilizado: máscaras, o face shield, pincéis, apagador e o microfone de lapela. Tão logo os recebo, um querido colega de trabalho me orienta como tudo funcionaria. Parto em direção à sala e lá chegando me deparo com o grupo de alunos do dia, apenas alguns poucos, mas que encheram aquele momento de sentido. Os demais ainda estavam em casa e me acompanharam de lá, pela câmera instalada na sala. Depois de alguma dificuldade com o microfone e com o computador, a aula tem início e pelo olhar daqueles que me acompanharam presencialmente pude sentir a vibração de estar ali depois de tanto tempo. Apesar da máscara, os olhos sorriam, as falas eram de empolgação.

Ao final da última aula, a sensação é de missão cumprida, mas ao mesmo tempo de tristeza por não ter todos ali presencialmente ainda, de não poder sentir a vibração da turma cheia. No caminho de volta para casa, em meio a pensamentos e reflexões sobre como tudo transcorreu, escuto no rádio o noticiário que fala sobre o aumento de casos e do descaso, como se a pandemia tivesse acabado e que tudo tivesse voltado ao passado. Mas não há nada de normal, nem do passado nem no presente. Quando verei a minha turma cheia presencialmente novamente? Ao que tudo indica, esse dia está longe.

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