Cinco meses ou cinco anos?

22/07/2020 às 19:33.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:05

Marcelo Batista (*)
mbatista@hojeemdia.com.br

Dados do Inep afirmam que de cada 4 alunos que fizeram o Enem do ano passado, apenas 3 tinham acesso à internet e 46% não tinham um computador. Mesmo assim, para decidir a nova data do Enem 2020 foi escolhido que a votação seria virtual, assim como já ocorre para a inscrição para o exame. Mesmo assim, para minha surpresa, a data que ganhou a votação foi a mais inclusiva possível: a realização do Enem no mês de maio. Mas, como se tudo fosse uma grande pegadinha, o prova será no mês de janeiro, devido a uma decisão entre o governo e as universidades. 

Concordo que é importante evitar o atraso do ano letivo nas instituições, mas não é importante também ouvir a vontade dos estudantes? Seria coerente colocar uma data na enquete sem que fosse avaliado anteriormente se ela seria viável? Novamente, o aluno tem se sentido prejudicado e enganado por uma decisão que inicialmente prometia ser a mais democrática.

Mas tudo bem, a data já foi definida e será realizada no mês de janeiro de 2021. Mas o que tem sido feito para os estudantes de escolas públicas para que eles possam concorrer, de fato, com os de escolas particulares? Uma evidência do problema é a considerável desistência dos alunos de cursinhos populares. De acordo com o portal G1, a evasão tem sido gigantesca se comparada a anos anteriores. Para se ter ideia, no cursinho popular Florestan Fernandes, de São Paulo, dos 800 alunos que iniciaram o ano letivo, apenas 40 continuam estudando, devido à pandemia e à falta de inclusão digital.

Os dados relacionados às escolas públicas ainda são muito nebulosos, visto que cada escola convive com uma realidade diferente, mas, na maioria dos casos, os alunos estão também desmotivados, devido à relativa proximidade do exame e à falta de perspectiva para a normalização dos estudos. Pelo visto, muitos alunos das escolas públicas serão colocados em breve de volta às carteiras das escolas estaduais e municipais, para tentar recuperar o tempo perdido, mas ao mesmo tempo correrão risco de exposição à Covid, o que é trágico. Nove estados e o Distrito Federal já sinalizam para uma volta às aulas até setembro, de acordo com dados das Secretarias da Educação, mas é importante que tudo seja feito com muito cuidado e cautela. 

Talvez se o Estado tivesse investido recursos na inclusão digital dos alunos com menor poder aquisitivo a situação poderia ser resolvida com menos tempo e de uma forma bem mais definitiva, visto que com acesso à internet e a um computador novo o aluno conseguiria aproximadamente 5 anos com um estudo remoto de qualidade. Oferecer dispositivos digitais e internet gratuita para as regiões de baixa renda seria uma estratégia muito mais definitiva do que um retorno abrupto das aulas e certamente geraria uma transformação mais efetiva na vida dos alunos de escolas públicas, além de manter, é claro, a saúde, pelo menos física, dos estudantes brasileiros.

(*) Marcelo Batista é educador há mais de 15 anos e fundador do canal Aprendi com o Papai, no Youtube.

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