Cooptado pelas feministas

16/09/2020 às 21:25.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:33

Marcelo Batista (*)

mbatista@hojeemdia.com.br

O caso aconteceu em 2018, no Cafe de La Musique, em Florianópolis. A jovem Mariana Ferrer, de 21 anos, foi dopada e estuprada por um empresário de 43 anos. Para a defesa da influenciadora digital foram apresentados vídeos mostrando a cena e foi comprovado que na calcinha da jovem havia sêmen compatível com o DNA do agressor. Após quase 2 anos em busca da inocência, a “justiça” considerou que o empresário é inocente por falta de provas. As únicas evidências apresentadas por ela foram a prova com os vídeos e o sêmen do homem. Só isso.Só isso???

Para rebater aos argumentos da jovem, foram apresentadas fotos sensuais das redes sociais da influencer, para sustentar a ideia de consentimento. Ou seja, se uma mulher tem fotos sensuais nas redes sociais ela naturalmente é apresentada como alguém que só tem relações sexuais consensuais, portanto em nenhuma situação pode ser estuprada. Genial!

Mas esses pensamentos problemáticos aparecem no Brasil não é de hoje.Na pesquisa Tolerância Social à Violência Contra a Mulher, do Ipea, de 2014, há uma série de dados que demonstram os desafios que comprovam a banalização de atos de abuso e do próprio estupro no Brasil, o que reforça o machismo e a objetificação da mulher. Só para ilustrar, na pesquisa, 58,5 % do entrevistados concordam, total ou parcialmente, que se as mulheres soubessem como se comportar haveria menos estupros no Brasil. Ou seja, a culpa é delas. A culpa é de Mariana Ferrer de qualquer outra jovem que  assim como ela tenha bebido demais ou tenha sido dopada por conhecidos.

Na mesma época em que as discussões sobre Ferrer apareceram nas redes sociais, um assunto apresentou muito mais engajamento dos usuários: o namoro entre a cantora Luisa Sonza e Vitão, seu colega de profissão, além da forma como a notícia foi recebida pelo comediante e seu ex-marido,  Whindersson Nunes. A polêmica veio da suspeita de que os dois poderiam estar juntos antes mesmo da ruptura entre o comediante e a cantora, ocorrida no mês de abril deste ano. A fofoca sobre a vida íntima dos artistas acabou abafando a discussão sobre o caso de Ferrer nas redes sociais, afinal, quem está preocupando com a situação de estupro? É muito mais interessante discutir sobre o relacionamento dos famosos ou sobre a suposta infidelidade alheia.

E como a educação entra nisso tudo? Muito simples: não há uma desconstrução do machismo nas escolas e nem debates sobre episódios como o de Mariana Ferrer, algo tão frequente em festas e calouradas. Quem nunca escutou uma história desse tipo em festas universitárias ou do Ensino Médio? Já comentei aqui na coluna sobre a importância da educação sexual nas escolas e reforço essa necessidade, além da discussão sobre questões relacionadas à afetividade.
 
Hoje, fui acusado em um comentário do meu canal no Youtube, o Aprendi com o Papai, de ser cooptado pelas feministas por discutir sobre a violência doméstica. Tudo isso prova que ainda precisamos tratar, e muito, sobre esse tipo de assunto.

(*) Marcelo Batista é educador há mais de 15 anos e fundador do canal Aprendi com o Papai, no Youtube.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por