Entre palhaços, democratas e republicanos

11/11/2020 às 20:26.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:01

Marcelo Batista (*)
mbatista@hojeemdia.com.br

As eleições presidenciais dos Estados Unidos tiveram um desfecho, pelo menos em tese, no sábado passado, quando os veículos de imprensa noticiaram a vitória do democrata Joe Biden sobre o republicano Donald Trump. Aqui no Brasil, muitos que procuravam entender as eleições americanas ficavam perdidos em relação a questões como o número de delegados, a apuração independente em cada estado e a demora na apuração dos votos. De maneira quase unânime, as pessoas diziam que se confundiam porque o sistema eleitoral deles é muito diferente do nosso e que se fosse mais parecido seria possível entender melhor sobre o processo. Eu não vou cair nessa. Será que no Brasil a população conhece realmente as questões relativas à política do nosso país? Eu acredito que não.

Neste domingo teremos eleições para escolher quem serão os prefeitos e vereadores para atender às nossas demandas como cidadãos ao longo dos próximos quatro anos. Mesmo com as eleições previamente marcadas (e adiadas devido à Covid), tenho certeza que muitos que irão às urnas no domingo não sabem nem quais são as funções dos vereadores e dos prefeitos. Como imaginar que o voto pode ser feito de maneira consciente nesse tipo de contexto? Como entender o básico das eleições americanas se não entendemos nem mesmo o nosso sistema eleitoral?

Faço essas colocações com a indignação de quem teve que, sozinho, buscar essas e várias outras informações sobre política sozinho ao longo da juventude, perdido em um vocabulário excessivamente rebuscado e inacessível nos veículos de comunicação. Tudo isso devido a um ensino obscuro sobre o tema, fornecido de forma extremamente precária tanto em escolas públicas quanto particulares. Quantos são os que concluem o ensino médio sabendo a diferença entre a “direita” e “esquerda”? Quantos aprendem algo que extrapole a visão política polarizada do século XXI e ditada pela mídia e pelos algoritmos nos meios digitais?

Aos jovens, é atribuído o poder de votar a partir dos 16 anos no nosso país, mas não há a oferta de conhecimento sobre um tema tão importante para a construção da nossa realidade. Nas instituições, parece mais importante afogar os alunos entre funções quadráticas e orações subordinadas do que fazê-los compreender o básico sobre política e cidadania. Quem aprendeu, de fato, sobre o tema durante o período escolar? Quantos realmente conhecem a Constituição? É necessário que haja uma oferta de ensino, mesmo básico, sobre Ciências Políticas nas escolas, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio. O poder de voto só pode ser, de fato, efetivo, quando há a possibilidade de fazê-lo com o mínimo de consciência sobre o sistema eleitoral vigente e da função dos nossos candidatos. Enquanto isso não ocorrer, ficaremos na dúvida se votaremos em palhaços ou se somos somente o reflexo das suas figuras pitorescas do outro lado das urnas.

(*) Marcelo Batista é educador há mais de 15 anos e fundador do canal Aprendi com o Papai, no Youtube.

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