Fechado para balanço

31/03/2021 às 20:59.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:34

Marcelo Batista*

mbatista@hojeemdia.com.br


A segunda-feira, dia 29 de março, foi um dia diferente para quase 3 milhões de estudantes que fizeram a edição de 2020 da prova do Enem. Pela primeira vez em um contexto de pandemia, a prova teve que ser remanejada devido às consequências da Covid, o que fez com que o resultado saísse somente neste mês. Foi também o primeiro ano do Enem digital, que ocorreu para alguns dos estudantes que fizeram a prova no novo formato. Entre as várias novidades, uma situação não mudou em relação aos anos anteriores: o desleixo com os estudantes.

Muitos candidatos relataram uma grande dificuldade para acessar o resultado da prova no site do Inep e muitos chegaram a virar a madrugada na tentativa de acessar a nota, que estava anteriormente prevista para 18h. O Inep não conseguiu se organizar para um grande tráfego no site que revelaria os resultados da prova mais importante para os alunos que estão tentando uma vaga no ensino superior. Mas como saber que os candidatos acessariam o sistema ao mesmo tempo, não é mesmo? Haja F5 e haja paciência. Durante as aulas da terça-feira nos pré-vestibulares, o que se via era um cenário de alunos desanimados com o resultado e esgotados por todo o estresse gerado pela edição certamente mais sofrida do exame, devido ao adiamento, gabarito contestável em algumas disciplinas, anulação de questões e dificuldades para acessar o resultado.

Os números revelam por si só toda a lambança na edição 2020 e o efeito devastador da pandemia sobre a educação. Para se ter ideia, na versão impressa do exame, 51,6% dos alunos estavam ausentes na data da prova, enquanto na versão digital a abstenção chegou a 68,5%. É um retrato de uma educação que perdeu completamente o seu rumo e da descrença dos estudantes em relação à entrada no ensino superior. Pelo visto, poucos são os alunos dispostos a fazer “balbúrdia"nas universidades ou estudantes animados para participar do “plantio extensivo de maconha” nas instituições de ensino, como diria o ex-ministro Abraham Weintraub.

Os resultados escancaram também as grandes dificuldades dos alunos, por exemplo, em redação e linguagens. Na edição 2020, para se ter uma ideia, somente 28 alunos alcançaram a nota máxima na redação, enquanto a proficiência média foi de apenas 588,54 pontos. Na prova de linguagens, que contempla língua estrangeira, português e literatura, fica evidente um grande gargalo educacional: a proficiência média foi de apenas 523,98 pontos, ainda menor do que a nota de redação. Isso sem falar na nota média em áreas como Matemática (520,73), Ciências Humanas ( 511,64) e Ciências da Natureza (490,34).

Mas terça, na ressaca do resultado do exame,  foi dia de começar tudo novamente. Enquanto alguns faziam as contas para pensar se a nota final daria para entrar no curso desejado, outros contavam os 3668 mortos pela Covid nas últimas 24 horas com a mesma incredulidade e desesperança em um país que luta para chegar vivo até o Enem 2021 ou até o final campanha de vacinação.

(*) Marcelo Batista é educador há mais de 15 anos e fundador do canal Aprendi com o Papai, no Youtube.

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