Na mira: entre a educação e o BBB

23/02/2021 às 17:59.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:15

Marcelo Batista (*)

mbatista@hojeemdia.com.br

Nesta semana, o Brasil, embasbacado, descobriu o significado de um novo termo no Big Brother Brasil: “basculho”. A palavra, proferida por um dos participantes do programa tem o mesmo significado de algo sem valor, proveniente do lixo. Foi-se o tempo em que as pessoas aprendiam novas palavras na escola. Mas em um sistema educacional tão atingido pela pandemia, a educação precisa se virar, já que não dá pra estudar do modo tradicional. Seria maravilhoso se fosse possível estudar remotamente com qualidade, mas a pandemia tem impossibilitado o ensino para alguns. Para piorar, a pauta educacional continua pouco discutida, afogada em meio a debates acalorados sobre falta de vacina ou o sobre porte de armas.

As escolas da rede pública em São Paulo, após o retorno presencial, apresentaram 77 casos de Covid-19 em uma semana. O número alarmante divulgado pela CNN Brasil demonstra que pensar na volta às aulas pode ser considerado algo precipitado e talvez arriscado no país, pelo menos enquanto não há vacinação para todos. Essa situação escancara o problema mais delicado para o sistema educacional no momento: a incapacidade de manter o modelo tradicional de ensino, algo problemático tanto para as instituições públicas quanto para as instituições privadas.

Para se ter uma ideia da dimensão do problema, dados da Urca Capital Partners mostram que, em função da pandemia, 150 escolas particulares fecharam no Rio. É comum que os pais de classe média - estrangulados pela economia do país e desconfiados do modelo alternativo de ensino - acabem retirando os alunos das escolas particulares e transferindo para as escolas públicas. Enquanto isso, nas instituições públicas, principalmente nas regiões mais pobres do Brasil, os alunos abandonam de vez o ambiente acadêmico para buscar o próprio sustento ou para ajudar a família.

Uma situação que evidencia essa questão é o aumento do endividamento das famílias no Brasil, que representa 51% da renda acumulada nos últimos 12 meses. O dado escancara um aumento do endividamento em 6,12% no intervalo de um ano e reforça um ciclo do sistema educacional: a comunidade escolar não tomou vacina, então as aulas presenciais são interrompidas; as aulas são interrompidas, o que torna o ensino contestável em algumas situações; os pais, muitas vezes sem recursos financeiros e desiludidos com a educação, resolvem tirar o filho da escola, o que evidencia o fantasma da evasão.

O momento continua pedindo muita sabedoria e investimento na educação do país. É necessário oferecer vacina a toda a comunidade escolar para que as aulas presenciais possam voltar com segurança. Além disso, é fundamental que haja algum tipo de incentivo financeiro às pequenas instituições de ensino, que estão fadadas à falência na pandemia. Não é hora de demonstrar preocupação com decretos sobre porte de armas, mas sim oferecer propostas para os alunos e instituições de ensino, afinal de contas, eu aprendi no BBB: eu não sou basculho não!

(*) Marcelo Batista é educador há mais de 15 anos e fundador do canal Aprendi com o Papai, no Youtube.

  

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