O que o Big Brother 21 revela sobre a educação no Brasil?

11/02/2021 às 16:37.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:09

Léo Miranda*

Presente na tv aberta há vinte e um anos, a versão atual do programa Big Brother tem trazido à tona temas extremamente sensíveis abordados de formas que revelam o quanto ainda precisamos avançar enquanto sociedade. Apesar do roteiro se repetir a cada edição, o Big Brother 21 certamente tem superado as expectativas inclusive daqueles que não se mostravam interessados pelo enredo construído pelos participantes da versão atual. Acontece que as falas, ações e reações dos “brothers” passaram do ponto da polêmica ao acionarem temas como a violência psicológica, preconceitos pela orientação sexual e mais recentemente o colorismo. Esse último sem sombra dúvidas resgata o mais arraigado preconceito presente na sociedade brasileira, o da origem étnica e racial.

Em um diálogo o comediante Nego Di se juntou a Karol Conká, Lumena, Thaís, Pocah e Carla Diaz em uma conversa sobre a origem étnica do participante Gilberto. Nego Di disse que durante a festa “Herança Africana” Gilberto afirmou ser negro, o que desagradou o comediante gaúcho: “deu vontade de levantar e ir embora”, comentou Di, o que resultou na frase de Conká: “eu acho que negro mesmo é o Fiuk”, disse ela em tom de deboche. O diálogo entre os participantes durante todo o tempo deu a entender que Gil não poderia se autodeclarar negro, quando essa é indicação do próprio IBGE no tocante à definição das características étnico-raciais da população brasileira. 

As falas dos participantes reforçam a ideia da diferenciação de tonalidades da pela negra, como também a utilização de características físicas como formas de afirmar o grau de afrodescendência de uma pessoa, o que resulta em uma deliberada forma de anulação não só da autodeclaração, mas também na utilização muitas e corriqueiras de expressões que tentam anular ou camuflar a origem étnica de uma pessoa. Ao mesmo tempo o diálogo resgata o passado discriminatório arraigado em ações como a tentativa de branqueamento da população brasileira no século XIX conduzida pelas elites agrárias detentoras do poder político à época, que estimularam a imigração de europeus ao Brasil com o pretexto de auxiliar na passagem do uso da força de trabalho escrava para a assalariada. 

A abordagem feita por Nego Di e Carol Conká e a passividade daqueles que os ouviam mostra como temas como o colorismo precisam ser abordados nas escolas de forma a conduzir a valorização de saberes e da identidade africana e principalmente combater o enraizado racismo estrutural presente em nosso país. Para além da aprendizagem teórica, a escola é espaço de troca, de construção de experiências, de emancipação coletiva e individual, além de catalisadora de mudanças efetivas que permitam que falas como as assistidas no Big Brother 21 não se repitam e que principalmente não sejam recebidas de forma passiva.  

(*) É professor de Geografia, graduado e mestre pela UFMG. Também é fundador do canal educacional Mundo Geográfico

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