Um exame para cada um de nós

04/03/2021 às 20:35.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:19

Marcelo Batista (*)

mbatista@hojeemdia.com.br

 A reaplicação do Enem 2020 ocorreu na semana passada, com 276 mil participantes, incluindo os alunos que foram afetados pela Covid-19 e por problemas logísticos para a realização da exame. Na prova, o tema de redação apresentado foi “a falta de empatia nas relações sociais no Brasil”. Apesar de apresentar uma discussão mais abstrata do que era esperado por muitos alunos, o tema talvez tenha sido o mais fácil de todos os tempos, pois discute sobre algo que desejamos ver todos os dias no nosso cotidiano desde o ano passado, mas que anda em falta entre a população e os governantes do nosso país.

Para quem não sabe, a palavra “empatia”, base do tema de redação, trata sobre o sentimento de preocupação com o próximo e sobre a capacidade de se colocar no lugar do outro em momentos difíceis. Essa discussão tem uma relação concreta com o contexto de pandemia, que começou no mês de março de 2020 por aqui. Na ocasião, muitos brasileiros, egoístas e inseguros, esgotaram os estoques de álcool em gel na maioria das farmácias, além da maior parte de máscaras do mercado, numa tentativa de se prevenir em relação à Covid-19. 

Ainda no ano passado, quando muitos ainda acreditavam na Cloroquina, o medicamento ficou esgotado na maioria das farmácias, devido ao comportamento de pessoas que buscavam uma salvação, mesmo sem comprovação científica da sua eficácia. Como consequência, a falta de preocupação com o próximo e a estupidez dos que  ignoram a ciência acabaram deixando as pessoas que dependeriam do medicamento para malária passando por dificuldades devido à falta de estoque nas drogarias. 

Alguns meses depois, próximo da virada do ano, muitos brasileiros se aglomeraram nas praias do país e em festas clandestinas, fazendo com que a disseminação da doença se intensificasse ainda mais, prejudicando, inclusive, muitos dos alunos que não puderam fazer o Enem e tiveram que recorrer à nova aplicação da semana passada. Nada mais justo que um tema que reflete tão bem a realidade de um povo cada vez mais egoísta, que busca a salvação rápida para problemas complexos e não se preocupa com o próximo.

Hoje, os números da Covid-19 foram ainda mais catastróficos: 1726 mortes em 24 horas, o recorde negativo de toda a pandemia no país. Para piorar a história, uma discussão comum em várias cidades brasileiras trata sobre a possibilidade de volta às aulas presenciais, inclusive em Belo Horizonte, mesmo no momento mais crítico da pandemia, com os hospitais sobrecarregados e com o colapso do sistema de saúde. Diante de tanta incoerência, fica fácil fazer o Enem: em um ano em que o que mais buscamos é um pouco de empatia, que todos nós possamos deixar, nem que seja na  discussão sobre a redação, um pouco do nosso desabafo.

(*) Marcelo Batista é educador há mais de 15 anos e fundador do canal Aprendi com o Papai, no Youtube.

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