Uma blusa amarela perdida no espaço. E no tempo...

29/11/2018 às 17:49.
Atualizado em 28/10/2021 às 02:27

Na semana passada, como bem se recordam... 

Pausa para memória afetiva. 

Eu sempre quis começar um texto assim. Trata-se de uma fala do locutor/narrador Ibrahim Barchini, da saudosa AIC São Paulo – o primeiro e maior estúdio de dublagem do país –, logo no início de alguns episódios de “Perdidos no Espaço”. A série dos anos 60, que trazia as aventuras da Família Robinson, chegou ao Brasil na década seguinte. Virei fã. 

Retomando a crônica: Na semana passada, como bem se recordam, mencionei neste espaço, onde espero que não haja ninguém perdido, o insosso jogo do domingo, 16/11, do Cabuloso contra o São Paulo, no Morumbi. 

Falei da falta de ímpeto vencedor do Cruzeiro, já classificado para a Libertadores, sobretudo diante do nosso arqui-inimigo paulistano – time que pode ficar 200 jogos sem vencer numa competição de pontos corridos, mas põe fim ao jejum assim que nos enfrenta. 

O que não contei foi que, enquanto sofria com a modorrenta peleja, lembrei-me inevitavelmente da partida entre os mesmos clubes na final da Copa do Brasil de 2000, no Mineirão. 

Fui ao estádio a trabalho, como repórter de um grande jornal também paulista, e fiquei no gramado, bem ao lado do banco tricolor. Minha tarefa era colher entrevistas e reações da comissão técnica – Levir Culpi era o comandante –, dos jogadores, dirigentes e até de familiares de alguns deles, que estavam ali com a certeza de que seriam campeões.

Só não contavam, claro, com a bem montada estratégia do desacreditado técnico Marco Aurélio, com a ousadia do garoto Geovanni, naquela cobrança de falta sensacional que assegurou o 2 a 1, ou com a gana do zagueiro Clebão, que afastou o perigo do empate no finalzinho. 

E, certamente, não contavam com a minha reação, logo que o polêmico Carlos Simon encerrou o confronto. 

Eu tinha passado minhas matérias pelo telefone celular e precisava produzir só mais um texto, sobre a festa cruzeirense no estádio. A crônica do jogo, com os lances minuto a minuto e todo o resto, estava sendo feita na matriz do periódico, pela TV.

Recordo-me como se fosse ontem: ao ouvir o apito do árbitro, deixei a obrigação de lado e saí correndo com os jogadores, fazendo a famosa volta olímpica no Gigante da Pampulha. E gritando “Tri...campeão!”, como se eu pertencesse ao grupo.

A certa altura, o atacante Oséas, ao meu lado, tirou o manto celeste, girou-o sobre a cabeça e atirou-o para a torcida, na geral – bons tempos do Mineirão! 

Totalmente sem noção e embriagado de emoção - só de emoção, juro! -, fiz o mesmo: livrei-me da blusa amarela que vestia, que nada tinha a ver com o Cruzeiro, e joguei-a na direção da galera. 

O cara que a pegou me lançou um olhar confuso. “Que droga é essa?”, deve ter pensado. De qualquer forma, berrou “Zêeeeiiiroooo!” e sumiu no meio da multidão com minha peça de roupa. 

Naquele domingo, 9 de julho, há 18 anos, voltei para casa feliz e descamisado, para espanto da minha mulher e das minhas filhas, que até hoje devem se perguntar se o caso aconteceu de verdade. 

Amarrando assuntos: um dos bordões do Robô B9, de “Perdidos no Espaço”, era gritar “Não tem registro, não tem registro!”, balançando os braços mecânicos. Pois bem, a minha historinha agora tem, pelo menos online.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por