AL: crise, desigualdade e uma sociedade fraturada

18/09/2020 às 21:19.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:34

Engana-se quem pensa que o distanciamento e o isolamento social em alguns países começaram com a Covid. A brutal desigualdade da America Latina explicita há algum tempo uma triste, nefasta e preocupante brecha entre ricos e pobres, comprometendo sobremaneira princípios elementares da dignidade humana e a qualidade de vida das pessoas.

Conforme a mais recente publicação do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), “A crise e a Desigualdade”, a América Latina e o Caribe são regiões das mais desiguais do mundo em matéria de renda. “Os 10% mais ricos da população recebem 22 vezes mais do que a renda dos 10% mais pobres. E 1% dos mais ricos absorve 21% da receita de toda a economia, o dobro da média do mundo industrializado”. 

Além disso, as diferenças acentuadas em matéria de receitas representam apenas uma das várias formas de desigualdade que minam a coesão social, o sentimento de pertencimento e aumentam o isolamento social. “Gênero e raça, como a renda, são poderosos determinantes do acesso a cuidados de saúde, educação, emprego e sistema legal”.

Desde cedo, a desigualdade impõe isolamento social das camadas menos favorecidas. A segregação se mostra perversa no acesso a escolas de melhor qualidade (vide o IDEB divulgados nesta semana com números comparativos dos alunos de escolas públicas e privadas), unidades de saúde mais equipadas, moradia digna, a diversas formas de lazer e ao mundo digital do século XXI. E posteriormente este isolamento proporciona trabalhos apenas informais ou empregos com salários bem menores e a continuidade de um círculo vicioso em que são mínimas as chances de se transformar em virtuoso.

Esta pandemia desnudou, escancarou uma realidade com origens históricas e perversas que compromete as novas gerações e o futuro do Brasil e dos países da região. Um ponto de extrema preocupação apresentado pelos especialistas do BID, que os governos da América Latina e Caribe são oito vezes menos eficazes do que os países mais desenvolvidos na redução da desigualdade por meio da carga tributária e despesas públicas. “Políticas redistributivas dos países da região reduzem a desigualdade em menos de 5%, enquanto o mundo industrializado 38%”.

Desafios enormes que exigirão de todos sinergia, foco, determinação, disciplina e o mais importante, sobreposição do interesse público a interesses pessoais, partidários e corporativos.

  

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