Frustração e agravamento social

30/10/2020 às 21:34.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:55

Em um mundo globalizado e cada vez mais conectado e interdependente, não há como desconsiderar a conjuntura externa como fator imprescindível não só para análises internas, tanto sociais quanto econômicas e políticas, como também para planejamentos e decisões governamentais e do setor privado.

Apenas nas três últimas décadas tivemos momentos cíclicos, tanto negativos quanto positivos, em que a conjugação de condições internas quanto externas se mostraram de forma explícita aos governos. Nos momentos mais favoráveis, alguns países planejaram e implantaram políticas públicas inclusivas e sustentáveis, fortalecendo sua infraestrutura, consolidando parcerias comerciais com outros países, focando em medidas anticorrupção e simplificando a estrutura administrativa, com menos burocracia e melhor ambiente de negócios, potencializando a geração de renda e empregos.

No Brasil, como na maioria dos países da América Latina, desperdiçamos os momentos de pujança em avançar nos temas acima, e por suposto, nos momentos de “tempestade perfeita”, sofremos e comprometemos gerações com agravamento das questões sociais, e sobremaneira tivemos graves problemas de corrupção, ineficiência e nefasta burocracia administrativa, fragilidades e falta de efetividade dos sistemas educacionais e de saúde, aumento da delinquência e da criminalidade, o que indubitavelmente afeta a qualidade da democracia e a vida de todos. 

E o bombástico efeito da Covid, uma pandemia com inúmeros reflexos globais, atinge em cheio a todos, mas com consequências mais nocivas aos países em desenvolvimento. Até então muitas pessoas nos países em desenvolvimento estavam otimistas sobre seu futuro. Após percepção de recuperação da crise de 2009-2010, perspectivas boas vinham da China, pela crescente demanda por petróleo, minerais e matérias-primas agrícolas. Em um passado recente, muitos das classes D e E ascenderam para classe média, com renda média entre US$ 10 e US $ 50 per capita. E justamente estes e os mais pobres que estão mais sujeitos ao impacto macroeconômico gerado pela pandemia.

Estudo do Banco Mundial estima em contrações em média de 5% do PIB em âmbito global, o que poderia fazer com que entre 70 e 100 milhões de pessoas regredissem para a pobreza extrema. Uma grave análise que os mais pobres do período pré pandemia podem repentinamente serem rebaixados entre os extremamente pobres, e um número crescente de pessoas, quase 400 milhões, segundo estimativas do Banco Mundial, está vulnerável a uma queda acentuada na receita durante a crise atual. Adicione outros 50 milhões de pessoas de famílias de classe média que provavelmente se tornarão bem vulneráveis e teremos 450 milhões de pessoas no mundo em grande dificuldade.

Estes ingredientes são suficientes para imaginarmos o que está por vir na região latino-americana. Em um passado recente, ainda antes da pandemia, tivemos grandes protestos e manifestações na região, a exemplo do Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia e Equador; cada um com suas peculiaridades, mas com sentidos similares de exigir melhores políticas públicas, combate à corrupção e aos privilégios de setores corporativos. 

Reflitamos sobre isto. E que cada um, na sua esfera de atuação, atue com responsabilidade neste grave momento pós pandemia.

  

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