O Brasil e o discurso da casa dividida

05/02/2021 às 19:10.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:06

“Uma casa dividida contra si mesma não pode permanecer... Não espero que a União se dissolva; não espero que a casa caia; mas espero que deixe de ser dividida. Ela se transformará só numa coisa, ou só na outra”.

O disposto acima é parte do memorável discurso da Casa Dividida, proferido pelo maior presidente da história dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, em 16 de junho de 1858, em Springfield, ao aceitar a indicação do Partido Republicano para concorrer ao Senado.

A inspiração do velho Abe foi no novo testamento, livro de Mateus, 12:25, que assinala que “Todo reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá”. O contexto da época do discurso de Lincoln era bastante complexo, um país dividido entre estados libertários e escravocratas. Nestes termos sua pregação era explícita pela impossibilidade de permanecer o país como uma casa dividida. “Eu acredito que este governo não pode suportar, permanentemente, ser metade escravo e metade livre. Ou os adversários da escravidão irão deter a propagação da mesma, e a opinião pública deve repousar na crença de que deva ser extinta definitivamente, ou seus defensores irão estendê-la adiante, até que ela se torne legal em todos os Estados, velhos ou novos, do norte como no Sul”.

Falando do Brasil do momento, paira uma divisão criada e impulsionada a partir de 2003 entre o “nós e eles”, os do bem e os do mal. Diferenças entre concepções políticas e econômicas, prioridades e agendas de políticas públicas, de políticas desenvolvimentistas, de visão de país e de mundo, não são apenas normais, mas essenciais para qualquer nação em seu processo interior de reflexão dos rumos a tomar.

O inadmissível é quando se impulsiona de forma doutrinadora e sectária a tese do pensamento único, ou seja, quem não pensa seguindo determinada cartilha, é “contra o povo”, um mal intencionado. Nestes termos, temos hoje uma casa dividida, que vem sendo cada vez alimentada, potencializando um perigoso ambiente de intolerância e respeito a opiniões, pensamentos e falas divergentes.

Tanto o pensamento único como a casa dividida são concepções extremas e maléficas, e desconectadas para os anseios da cidadania no processo de construção de uma grande nação. Estamos em uma árdua travessia do deserto quase no momento de pós pandemia. Não há mais como adiar uma agenda efetiva para o país, permeada por consensos entre atores relevantes no processo.

Sim, 2022 está ai com eleições presidenciais e nos Estados, mas o momento é de união e convergência, respeito às diferenças e principalmente ao Estado Democrático de Direito, em que não apenas direitos, mas deveres devem ser respeitados. Avancemos nas reformas tributária e administrativa, em políticas sociais que atendam ao clamor dos que perderam o emprego e não têm o que comer. Ações emergenciais estão na ordem do dia, assim como mecanismos de geração de emprego e renda.

Por fim, no mesmo discurso de Lincoln, “Se antes de tudo pudéssemos saber para onde vamos, e para onde tendemos, poderíamos melhor avaliar o que e como fazê-lo... 

Não iremos falhar, se nos mantivermos firmes, não iremos falhar. Sábios conselhos podem acelerar, ou atrasar os erros, mas, cedo ou tarde, a vitória é certa que virá.

Uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir”.

  

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