Para o pós-Covid, sim, a política importa!

19/06/2020 às 20:34.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:49

Se no período pré-pandemia a política já era reconhecida como de fundamental importância para o desenvolvimento dos países, para o pós será imprescindível e indispensável. Ainda em 2006, com o título “Progresso Econômico e Social na América Latina”, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em seu relatório, expôs em sua conclusão que “ as instituições políticas e partidárias são importantes. Fatores como a existência ou não de partidos programáticos, de certa institucionalização partidária, de sistemas políticos maduros, são fatores que ajudam na efetiva implementação e na manutenção de projetos de reformas ou políticas ao longo do tempo.

Aspectos econômicos são fundamentais na compreensão de problemas em que vivem o Brasil e demais países da América Latina, como desigualdade, violência e pobreza. Por longo tempo, o desenvolvimento esteve associado à modernização e à ocidentalização, sendo estudado como um tópico obviamente econômico. A disciplina econômica foi a principal fonte de prescrições para os que decidiam políticas de desenvolvimento. Entretanto, esaa perspectiva cai inevitavelmente no reducionismo.

A questão política é também da mais alta relevância no diagnóstico atual e para a nossa reconstrução social no período pós-pandemia. Não há como reduzir o abismo entre ricos e pobres produzindo desenvolvimento com justiça e igualdade com instituições políticas frágeis, sérios conflitos entre poderes e democracia apenas no aspecto formal.

Por suposto, apenas reformas políticas e eleitorais não serão uma panacéia que resolverá todos os problemas da noite para o dia. Relevante recordar o conto “Sereníssima República”, de Machado de Assis, em que o cônego Vargas afirma ter achado uma espécie de aranha que fala de uma sociedade delas, uma república chamada Sereníssima República; ele escolhe como sistema de eleição um sistema baseado no da República de Veneza, onde se retiravam bolas de um saco com o nome dos eleitos. Esse sistema vai sendo fraudado pelas aranhas, ocasionando, então, várias tentativas de mudanças para corrigi-lo, incluindo até o formato das urnas. O conto termina sem que essa pretensão tenha sucesso, uma vez que os agrupamentos políticos e personalismos em confronto sempre darão um jeito de burlar os sistemas eleitorais instituídos.

Portanto, as mudanças não virão apenas com reformas na legislação. Elas são importantes, sim, mas práticas sociais e culturais devem ser modificadas, assim como aprimoramento nas relações humanas e pessoais, com supremacia da tolerância e fim do maniqueísmo.

É inegável que uma democracia que funcione de maneira adequada nos seus aspectos formal e real é condição indispensável para fortalecer as instituições públicas e implantar políticas eficientes e almejadas pela população, permitindo assim um desenvolvimento sustentável. A resolução dos problemas do desenvolvimento nacional tem a ver, em grande medida, com a capacidade de governar, com a capacidade dos governos para mobilizar os recursos de poder necessários para definir, implantar e sustentar a agenda dos problemas do desenvolvimento.

Mister é que no pós-Covid governos, empresários e sociedade civil atuem em sintonia para que a travessia do deserto seja rápida e menos dolorosa. Algo como uma tempestade perfeita se avizinha, com gravíssimos problemas sociais, econômicos, intolerância política, conflitos graves entre poderes e incapacidade de agentes políticos de liderar de forma eficaz este processo.

Não há outro caminho que não seja aprofundar de forma efetiva em mecanismos de uma governabilidade democrática pujante, entendia por J.Payne Mark como sendo “a capacidade dos sistemas democráticos para aprovar, por em prática e manter as decisões necessárias para resolver problemas sociais, resultado de procedimentos democráticos institucionalizados que consideram plenamente os pontos de vista e interesses dos atores políticos e sociais relevantes”.

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