Quem financia o Talibã?

20/08/2021 às 14:55.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:43

Estarrecimento. Preocupação. Compaixão. Tristeza. Indignação. Estes apenas alguns dos sentimentos com as imagens, entrevistas, fotos e relatos que estão rodando o mundo acerca da tomada do poder no Afeganistão pelos fundamentalistas do movimento chamado Talibã.

O objeto desta coluna não é dispor das concepções e pensamentos deste grupo, pois estão sendo fartamente divulgadas pela mídia internacional, com destaque ao radicalismo, extremismo, combate a chamada “cultura ocidental” e a estapafúrdia visão da mulher na sociedade, que não pode trabalhar, não pode estudar e só pode sair pra rua acompanhada de um homem.

O ponto fulcral desta é analisar de forma célere quanto ao financiamento do grupo, pois armamentos, equipamentos, treinamentos e manutenção dos seus integrantes requer recursos para efetivação dos seus propósitos, como a tomada e manutenção do poder em regiões do país, como o recém acontecido na capital Cabul.

Como fonte de pesquisa e análise destaca-se um relatório de 2014 citado em uma publicação do Procurador Federal e especialista em crimes financeiros transnacionais André Martinez. O documento foi elaborado pela Força-Tarefa de Ação Financeira (FATF), em inglês The Financial Action Task Force, que é uma conceituada agencia global e intergovernamental, que desenvolve e promove políticas para proteger o sistema financeiro global contra lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo e o financiamento da proliferação de armas de destruição em massa.

O relatório em epígrafe é intitulado “Fluxos financeiros ligados a produção e tráfico de Opiáceos afegãos”. De início deve ser esclarecido que os opiáceos podem ser naturais ou semi-sintéticos, quando sofrem modificações parciais das substâncias naturais, resultando por exemplo na heroína.

Explícito que o tráfico de drogas é um mercado global bilionario, com um “modelo de negócios” ramificado e deveras complexo de rastreamento e mapeamento. O Afeganistão é o líder mundial na produção e tráfico de opiáceos, sendo a principal fonte de renda e financiamento do Talebã. “Acredita-se que o negócio de opiáceos afegão seja uma mistura de cartéis e múltiplos mercados. Os traficantes internacionais contam com os serviços de profissionais financeiros, involuntariamente ou cúmplice, para gerenciar seus ativos, mas nenhum sistema global existe para alertar os países ou os setor privado desses indivíduos e entidades, ou para congelar os seus bens”.

E por fim, dispõe o relatório que “O volume líquido de drogas interceptadas globalmente é de 10 a 15%. No entanto, apenas 0,5% dos fundos relacionados com drogas e outros bens são confiscados. Isso significa que quase todos os seus lucros são integrados ao sistema financeiro legítimo do mundo”.

Destarte, este um paradigma nefasto da união do tráfico de drogas com o extremismo e o terrorismo, atentando de forma absoluta contra os princípios da dignidade da pessoa humana.

  

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por