Redes Sociais: constroem ou destroem relações humanas?

25/09/2020 às 19:18.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:38

“Quando você olha ao redor, sente que o mundo está enlouquecendo”. Esta é uma das reflexões do ex-executivo da Google Tristan Harris, no imperdível documentário “O Dilema das Redes”, lançado recentemente pela Netflix.

Com depoimentos de ex-dirigentes de gigantes como Facebook, Twiter, Instagram, Pinterest e de renomados estudiosos e pesquisadores de universidades americanas, o filme desnuda a que servem estrategicamente os tais algoritmos, uma espécie de mega gigante cérebro eletrônico que armazena de forma personalizada todas as movimentações das pessoas nas redes sociais e nos aplicativos. “Tudo o que já fizemos, todos os cliques, os vídeos que assistimos, as curtidas, tudo isso ajuda a moldar um modelo cada vez mais fiel. Assim que esse modelo é criado, é possível prever um padrão de comportamento”, esclarece Tristan Harris. 

Na sequencia do filme, explica ainda Tristan que há três objetivos principais na maior parte dos algoritmos criados pelos gigantes de tecnologia. “O de engajamento, para aumentar o seu uso e manter você navegando. O de crescimento, para que você sempre convide amigos e os faça convidar outros amigos. E o objetivo de publicidade, para garantir que enquanto tudo acontece, estejamos lucrando o máximo possível com anúncios”. Assim, nossos dados e comportamentos são o que há de mais valioso no modelo de negócios das empresas de tecnologia. 

As megaestruturas tecnológicas são certeiras em identificar o que gostamos, em que trabalhamos, sobre nossa família, nossos hobbies preferidos, se estamos tristes, alegres, que sites visitamos e o que compramos, quanto tempo dedicamos a cada um, que fotos olhamos, quais curtimos, etc. Assim, as plataformas digitais se apresentam de forma agressiva para ganhar nosso tempo e nossos dados E estrategicamente somos “apresentados” a anúncios direcionados e personalizados atendendo ao bilionário mercado comercial nas redes sociais. O documentário não por acaso mostra que só dois tipos de “negócio” chamam seus clientes de usuários: os traficantes de drogas e as redes sociais.

Um dos temas abordado é o aumento do suicídio entre jovens. A dependência da aceitação social com número de curtidas e de amigos, tão importante para adolescentes, é sobremaneira potencializada pelas redes. E quando não satisfatória, gera mais ansiedade, depressão e como conseqüência mais grave o suicídio. Antes de 2010, conforme o documentário, a média mundial de suicídios entre jovens de 10 a 14 anos era de 7 para cada um milhão de pessoas. Atualmente esse número subiu para 20 para cada milhão. Em destaque, intrigante e até irônica a afirmativa de ex-executivos das megaempresas de redes sociais de que têm regras e até proibições para os próprios filhos em acessar produtos que eles mesmos criaram.

A precisão do algoritmo, segundo o filme, pode prejudicar o usuário não só no aspecto pessoal, mas também no social, mantendo-o dentro de uma bolha sectária e maniqueísta, dividindo cada vez mais a sociedade, além de impulsionar o extremismo, a intolerância e a divulgação das fake news. 
Urgente aprofundar debates mundiais com vistas a normatizações globais, antes que seja tarde demais, atentando para o dito no “Dilema das Redes”: “Se você não está pagando pelo produto, então você é o produto”.

  

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