À espera de um milagre

09/01/2021 às 14:55.
Atualizado em 05/12/2021 às 03:53

Imagine que você e sua família estão há meses viajando pelo deserto. Outras famílias estão também. A sede atinge a todos, e vários já morreram pelo caminho. Eis que todo o grupo se depara com uma barraca de água. Você corre para entrar na fila e poder comprar água para sua família ou senta-se em uma cadeira próxima e espera o vendedor parar de atender a fila para vir te servir?

E se a água estiver contaminada? É uma preocupação válida, mas pessoas das outras famílias com conhecimento técnico já analisaram a água, atestaram que é segura, e as famílias delas estão na fila ou já estão até matando a sede. Você insiste que precisa que alguém da sua própria família avalie a água ou finalmente decide entrar na fila? Caso faça questão da análise pela sua própria família, vai até o vendedor pedir uma amostra ou continua sentado na cadeira esperando ele parar tudo para trazer ela para você?

O mundo está atravessando o deserto da Covid, a barraca com as vacinas finalmente chegou, mas o Brasil não entrou na fila. O governo federal justifica que as fabricantes não apresentaram amostras das vacinas para análise pela Anvisa, apesar delas já terem sido analisadas por agências internacionais de renome, é o cúmulo da burocracia. E burocracia também mata.

Pensar que nossa população é grande e uma hora as fabricantes virão até nós é deixar de enxergar o óbvio: a fila da barraca tá maior que a capacidade de atendimento do vendedor e quem esperar vai receber sim, mas só no final.

Governar é tomar decisões difíceis, mas essa nem era uma delas. Faltou ação ao governo federal. É chocante o contraste entre a velocidade do governo para adquirir e estocar cloroquina, mesmo sem a indicação da Anvisa ou do Ministério da Saúde, e a lentidão para entrar na fila da vacina.

Mas eis que chegou a vacina do Butantã. Aquela que foi tratada com desdém e nomeada de “vachina” por alguns, e há uma luz no fim do túnel para o Brasil. Uma luz que não foi acesa pelo governo federal, que a todo tempo ficou à espera do garçom ou de um milagre.

Pagaremos o preço da demora, assim como pagaremos o preço mais alto (em dinheiro e em vidas) das seringas que foram deixadas para a última hora, mesmo a demanda sendo previsível. Aqui em Minas, o governo Zema se antecipou a essa demanda e já garantiu seringas para vacinação de toda a população. Uma pena que, com o Estado quebrado há anos, não temos dinheiro para garantir por conta própria as vacinas também. Precisamos urgentemente aprovar as privatizações e reformas necessárias para colocar nossas contas em dia e parar de depender dos outros. Isso é perigoso demais.

  

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