A encruzilhada da esquerda: interesses corporativos ou justiça social?

03/07/2020 às 19:00.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:56

A Previdência dos Servidores Públicos de MG, com as regras atuais, gera concentração de renda e desigualdade. Ela retira quase R$1.000,00 por ano de cada cidadão mineiro para entregar para menos de 1,5% da população. O cidadão de quem os quase R$1.000,00 são retirados tem uma média salarial de R$1,3 mil. O montante destinado aos menos de 1,5% da população gera uma média de recebimentos de R$5,3 mil para cada feliz beneficiário.

Ou seja, as regras atuais da Previdência retiram quase um mês de salário de quem ganha quatro vezes menos para entregar para quem ganha quatro vezes mais gozar da aposentadoria. Nessa conta incluímos entre aqueles de quem são retirados os quase R$1.000,00 desempregados, estudantes, deficientes e crianças. Por assalariado, a conta fica ainda mais pesada.

Reduzir essa pesada e artificial concentração de renda por parte do Estado é uma das razões que fazem a Reforma da Previdência proposta pelo governo do Novo ser tão justa e necessária. O Estado não deveria ser gerador de desigualdade.

Todavia, a reforma tem encontrado grande oposição da esquerda na Assembleia. O bloco, liderado pelo PT e representado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por uma parlamentar da Rede, foi o único que votou contra o prosseguimento da reforma na semana passada. Nenhuma palavra sobre a concentração de renda que o sistema atual produz foi dada por nenhum dos vários deputados desse bloco que proferiram discursos, tampouco sobre a conta amarga que ele impõe à população de Minas a cada ano, incluindo os mais pobres.

Acho triste que neste momento tão importante para Minas a esquerda tenha deixado de defender a redução da desigualdade e o combate à concentração de renda, duas bandeiras que historicamente diz defender, e tenha se fechado de maneira tão firme na defesa corporativista dos servidores públicos.

Coube a mim, liberal e do Novo, mais uma vez lembrar desse cidadão de quem os R$1.000,00 são retirados, lembrar que a renda média dele já é algumas vezes menor que a do servidor, e defender seu direito a ver uma parcela maior de seus impostos retornar para ele na forma de mais educação, saúde e segurança para todos, em vez de ser concentrada em um grupo de pessoas que não alcança sequer 1,5% da população.

O debate da reforma ainda está no começo, faltam três comissões e o plenário para o projeto passar. Ainda dá tempo e seria ótimo ver a esquerda lembrar de sua velha bandeira de combate à concentração de renda, lembrar do cidadão que ganha quatro vezes menos e paga a conta, em vez de só defender uma categoria profissional.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por