A montanha pariu um rato

30/07/2021 às 17:18.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:33

Em 09/03/2020, o presidente Bolsonaro afirmou possuir provas de que as eleições de 2018 haviam sido fraudadas e que ele deveria ter vencido no 1º turno. O Livres, movimento político liberal do qual faço parte, apresentou interpelação judicial para que essas provas fossem exibidas, mas segue sem resposta até hoje. Em 07/07/2021, o presidente afirmou que também houve fraude nas eleições de 2014 e que era para Aécio Neves ter saído vencedor.

Na última quinta-feira, dia 29/07, o presidente convocou a imprensa para cobrir a live que faz semanalmente, mas com a condição de uma transmissão ao vivo, sem cortes. Afirmou que apresentaria provas de fraudes nas eleições. Criou-se uma montanha de expectativas. Veio a live e a montanha, cujo pico era tão alto, pariu um rato.

O presidente Bolsonaro admitiu não ter provas de fraudes nas eleições. Faltou admitir que mentiu quando afirmou tê-las. Em lugar disso, o que se viu foi uma longa fala com mais mentiras e teses conspiratórias embasadas em vídeos montados de whatsapp e em planilha com um já demonstrado erro de fórmula, que não se sabe se foi fruto de má-fé ou incompetência de quem a fez.

Perícias de vídeo e das próprias urnas demonstram que não houve urna recusando voto em 2018, nem autocompletando número ou finalizando votação antes de confirmação pelo eleitor. A urna eletrônica é usada em 46 países e o sistema é auditável. Desde 2009 o modelo de urna de 1996 já nem está mais em uso, permanecendo igual apenas o design. A apuração é pública e ocorre em cada seção eleitoral com a impressão e divulgação dos boletins de urna, que podem ser manualmente somados por qualquer cidadão para conferir a totalização eletrônica do TSE.

Queremos eleições mais seguras e cada vez mais transparentes e auditáveis, mas as mentiras do presidente só prejudicam essa discussão.

Além de prejudicarem um debate importante, as mentiras do presidente são também perigosas. As afirmações de fraude foram apresentadas como argumento para defender o voto impresso e ele próprio e um general que compõe seu governo fizeram afirmações públicas que se não houver voto impresso não haverá eleições ano que vem. Não explicaram se com isso queriam dizer que em 1º de janeiro de 2023, quando acabasse o atual mandato presidencial e dos governadores, e em 1º de fevereiro de 2023, quando acabasse o dos deputados, o Brasil ficaria sem presidente, governadores, Congresso e Assembleias, ou se ele pretende se eternizar no poder prorrogando seu mandato sem eleições, em um verdadeiro golpe de Estado. Tudo leva a crer que trabalhe com a segunda – e golpista – opção.

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