Igualando por baixo

28/01/2022 às 20:11.
Atualizado em 30/01/2022 às 01:07

Semana passada, o prefeito de BH, Alexandre Kalil (PSD), publicou decreto adiando em uma semana a reabertura das escolas do município. Segundo o prefeito, ele ordenou o adiamento para que houvesse tempo de vacinar as crianças de 5 a 11 anos contra a Covid.

Se nada mudar, será de apenas uma semana. Mais do que o prejuízo às crianças, que há dois anos sofrem com as limitações e dificuldades do ensino remoto, o adiamento mostra as limitações e dificuldades do prefeito de BH. Limitação de tratar a educação como prioridade. Desde o início da pandemia, o padrão-Kalil foi de escolas fechadas enquanto outras atividades voltavam a funcionar. Dificuldade de executar um mínimo de gestão e planejamento que permita algo tão prioritário voltar a funcionar de maneira segura, como estão funcionando bares, casas noturnas, estádios de futebol, que aglomeram muito mais pessoas e com maior proximidade.

O adiamento vai na contramão de todos os estudos e experiências nacionais e internacionais que demonstram que as escolas, com rígidos protocolos de distanciamento e higienização, não são locais de grande transmissão do vírus. As escolas estaduais, por exemplo, não terão adiamento do retorno às aulas e funcionarão sob protocolos de segurança para alunos, funcionários e professores. Já as escolas particulares de BH não terão a mesma oportunidade.

Kalil ordenou não apenas o adiamento do retorno às aulas das escolas de sua rede municipal, que deixou despreparada para executar protocolos de segurança, mas também das escolas particulares que funcionam no município. Não estabeleceu protocolos para elas, não se importou se elas se prepararam para funcionar sem riscos à saúde, apenas ordenou seu fechamento. Igualou a todos, e igualou por baixo.

A busca de igualdade pode parecer bela na teoria. Para ser bela na prática, tem que ser igualdade de oportunidades, significando uma busca constante de gerar condições de desenvolvimento para aqueles que dependem do poder público, não a retirada das condições de quem não depende.

Da maneira como Kalil fez, sem buscar gerar condições de retorno às aulas na rede municipal, mas apenas impedindo que aqueles que tinham condições retornassem, o que houve foi o uso das crianças da rede privada como instrumento de ideologia e projeto político, retirando delas o direito à educação e prejudicando seu futuro sem oferecer nada em troca. Sem oferecer nem mesmo proteção da saúde, como a grande maioria em todo o mundo pensou que seria o caso no início da pandemia, dois anos atrás, quando os primeiros fechamentos foram ordenados, pois hoje já sabemos os protocolos necessários para funcionar em segurança.

Ser humano nenhum deveria ser usado dessa maneira. Crianças, muito menos.

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