Juntando cacos e moedas

12/11/2021 às 17:05.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:14

A política impôs duas derrotas inesperadas ao Brasil e a Minas na semana passada.

Em Brasília, a Câmara dos Deputados aprovou a PEC dos Precatórios, que furará o teto de gastos em mais de R$91 bi, gerando inflação, e permitirá ao governo federal dar o calote em quem ele deve. O calote será aplicado sobre dívidas que já foram reconhecidas na Justiça, muitas em processos que se arrastaram por anos, muitos dos quais de aposentados e pensionistas já idosos. Uma parte bilionária dos recursos desse calote ficará sob controle dos próprios deputados que aprovaram a PEC, justamente em ano eleitoral.

Em Minas, a ALMG derrubou o veto do governador que garantia concorrência no setor de transportes. Com isso, aplicativos de ônibus, como a Buser, ficarão proibidos de oferecer viagens internas no estado e o monopólio das empresas de rodoviária voltará a valer. O cidadão voltará a não ter opções e a ser obrigado a pagar em uma passagem quase o dobro do que pagava com aplicativos. Além disso, agências de viagem ficarão com suas atividades prejudicadas e pequenos fretadores, com menos clientes, menos trabalho e menos comida na mesa.

O que tornou as duas derrotas inesperadas foram os votos que as garantiram. Em Brasília, 17 deputados da oposição votaram a favor da PEC e do calote. Sem eles, faltariam 2 votos para a aprovação. Em Minas, 5 deputados do bloco da base votaram pela derrubada do veto. Sem eles, faltariam 3 votos. Em Minas, há ainda a surpresa pela contrariedade à vontade popular, haja vista que pesquisa divulgada em 14/10 apurou que 80% dos mineiros eram favoráveis à manutenção do veto e contra a proibição dos aplicativos.

Trabalhei muito desde o início do mandato pela concorrência e pela quebra do monopólio dos ônibus, que conseguimos garantir em janeiro deste ano com um decreto do governador. Desde julho, quando começou a reação da ALMG a esta quebra, trabalhei contra o projeto que buscava proibir os aplicativos e, depois, para que o governador desse o veto e para que o veto fosse mantido. Sinto-me pessoalmente derrotado.

Não é hora, contudo, de jogar a toalha. Nunca é. Não pode ser. Saber que o principal prejudicado com essas decisões é a população, que empobrecida pela pandemia pode ter que juntar ainda mais suas moedas para pagar por inflação (vinda de Brasília) e viagens pelo dobro do preço (graças à ALMG), me força a juntar os cacos e seguir trabalhando. Em Brasília, ainda há o Senado. Em Minas, o Judiciário. E, se tudo falhar, em 2022 há eleições e, com elas, uma chance para o próprio povo prejudicado renovar a política e evitar que mais derrotas continuem acontecendo.

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