Negligência, inércia ou hipocrisia

03/12/2021 às 19:40.
Atualizado em 08/12/2021 às 01:12

Não possuo formação na área de saúde e não tenho a menor ideia se já podemos abolir o uso de máscaras, mas reconheço incoerência quando vejo uma. O contraste entre as cenas das últimas semanas e as notícias de cancelamento de formatura das escolas municipais de educação infantil de BH e os onipresentes avisos de uso obrigatório de máscaras no comércio e até nas ruas revela que estamos diante de um caso severo de negligência das autoridades na fiscalização de uma medida sanitária ainda muito importante, de uma inércia das autoridades na revisão de protocolos ou de simples hipocrisia.

Vimos milhares de pessoas se aglomerarem no Mineirão, a imensa maioria sem máscaras, políticos e autoridades entre elas, todas cantando e muitas se abraçando nos momentos de gol. Fomos informados que tudo foi feito sob protocolos sanitários rígidos que exigiam apresentação de testes de Covid para entrada no estádio. Ok, mas vimos também aglomerações em bares, também sem máscaras e sem nenhuma exigência de testes, e vimos o show da Cláudia Leitte em São Paulo e a multidão que se aglomerou nas ruas para comemorar o tão aguardado bi do Galo no Brasileirão.

Se as máscaras ainda são essenciais, foi criminosa a omissão das autoridades em não dispersar essas aglomerações. Se não são, é abusiva a inércia das autoridades em manter os protocolos, pois eles limitam a liberdade, a qualidade de vida e o conforto do cidadão.

E se há uma maneira segura de aglomerar milhares de pessoas gritando no estádio ou centenas nos bares, há de haver uma maneira segura de aglomerar algumas dezenas de pais em silêncio em uma formatura escolar ou poucas dúzias de cidadãos nas galerias do plenário e das comissões da Assembleia, nos quais a entrada ainda é proibida, apesar de uma exceção ter sido coincidentemente aberta pela presidência para a presença de sindicalistas na votação da derrubada do veto ao projeto que garantiu os monopólios das empresas de ônibus, que aos gritos pressionavam deputados pela proibição dos aplicativos, como a Buser.

Não observamos, no retorno dessas aglomerações, nenhuma nova onda da Covid ou aumento estatisticamente relevante dos casos e isso indica que estamos diante da inércia ou da hipocrisia. Menos pior, pois é possível corrigir. E, caso a variante ômicron chegue de vez, apesar da nossa alta taxa de vacinação, sempre é possível rever o protocolo e voltar a exigir o uso das máscaras. O que não podemos é normalizar não o uso, mas a existência de um duplo padrão de exigência, incoerente em si, que apenas faz cair o respeito pelas normas e pelas autoridades que as impõem.

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