Ninguém é uma ilha

28/03/2020 às 12:13.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:07

A pandemia do coronavírus é o maior desafio de nossa geração. Ao transformar em risco o fluxo de comércio global que marcou a era de maior prosperidade da história humana, o coronavírus nos ameaça com mortes em escala superior à da Gripe Espanhola, que ceifou quase 100 milhões de vidas em todo o mundo no início do século passado.

Da gripe espanhola podemos tirar uma lição sobre como enfrentar a crise. Enquanto a cidade de St. Louis, nos EUA, determinou imediatamente medidas rígidas de distanciamento social, a cidade da Filadélfia, no mesmo país, não tomou nenhuma medida imediata. Em St. Louis o número de mortes ficou abaixo de 700 pessoas e na Filadélfia ultrapassou 10 mil. A experiência ensina que acertaram os governos que, como o de Minas, determinaram rapidamente o isolamento social.
Mas a experiência, como repetia Roberto Campos, “é uma lanterna na popa, que ilumina apenas as ondas que já deixamos para trás”. Os desafios do coronavírus não são os mesmos da gripe espanhola e o mundo está bastante diferente.

O isolamento social depende da colaboração da sociedade para ser bem sucedido. As pessoas sairão às ruas, com ou sem decretos governamentais, quando a necessidade bater à porta. Ninguém verá a família passar fome passivamente em casa para cumprir um decreto e é necessário que haja um plano de auxílio aos enclausurados.

A recente medida aprovada pelo Congresso de conceder R$600,00/mês para as famílias ajuda, mas não resolve. Dinheiro só é útil como meio de adquirir bens ou serviços, que não surgem por canetada governamental ou leis. Bens e serviços precisam ser produzidos por pessoas. Uma pessoa pode ter dinheiro e ainda assim sofrer escassez se os produtos estiverem indisponíveis no mercado, como é o caso do álcool em gel.

Acima de tudo, a produção de bens e serviços não é retomada na mesma velocidade em que é interrompida. Para interromper basta um decreto, mas para retomar é necessário cadeia de suprimentos ativa, trabalhadores treinados e logística de escoamento da produção.

É fundamental, portanto, que os comitês de crise dos diversos governos tenham um olhar atento aos estoques, às cadeias produtivas e ao tempo necessário para reaquecer a economia. É fundamental que sejam multidisciplinares e que economistas e especialistas em produção opinem tanto quanto médicos. Aqui em Minas está sendo assim. Devemos cobrar para que no restante do Brasil também seja, pois muitas dessas cadeias de produção são interligadas. Como disse o poeta John Donne, e no nosso mundo globalizado isso é mais verdadeiro do que jamais foi, “nenhum homem é uma ilha”.


 

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