O capitão em seu labirinto

13/08/2021 às 18:40.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:40

A PEC do voto impresso é um assunto complexo, importante, que foi simplificado e maltratado por parte da população e da opinião pública. Muitos, sem conhecer o texto original, o parecer do relator ou o texto final levado a votação, tentaram resumir a questão a apoiar ou se opor a Bolsonaro, a ser tolerante ou rígido contra a possibilidade de fraudes. Essas simplificações prejudicaram o debate e agravaram a polarização.

Havia bons argumentos contra e a favor da medida. Por um lado, criava mecanismo adicional de auditoria, ajudando a aumentar a confiança nas eleições. Por outro, criava obrigação de difícil implementação a tempo das próximas eleições e abria espaço para fraudes nas contagens manuais que poderiam levar a contestações de resultado, judicialização e instabilidade institucional.

Pessoalmente, desejo mais mecanismos de auditoria e transparência, mas penso que é ruim congelar no texto da Constituição um modelo específico sob o qual essa auditoria deva ser realizada, quanto mais um modelo já tão ultrapassado e com histórico tão questionável em nosso país. Se fosse deputado federal, proporia emenda para que houvesse apenas a previsão de existência de auditoria, cujo modelo e prazo de implementação seriam posteriormente definidos em lei e, se não conseguisse a mudança no texto, votaria contra. Todavia, consigo compreender também quem votou a favor, na forma que estava. Pena que foram poucos os que definiram posições com base em verdadeira análise.

A pauta foi capturada por Bolsonaro e defendida de forma violenta, com ameaça de não realização de eleições caso o modelo por ele defendido fosse rejeitado. No dia da votação, promoveu desfile de tanques de guerra em frente ao Congresso, em ato visto por muitos como tentativa de intimidação. Quem já defendia a PEC há muito tempo ganhou subitamente o rótulo de bolsonarista, independente de sê-lo ou não. Quem se posicionou contra foi atacado como se desejasse fraude. Quem tentou argumentar foi atropelado pela turba e não foi ouvido.

Era melhor o presidente ter deixado os tanques nos quartéis e o debate seguir seu rumo, emitindo sua opinião sem bravatas ou radicalização, mas esse tipo de comportamento parece além de sua capacidade e contrário à sua estratégia política. A PEC foi rejeitada e agora ele está em um labirinto: dará o golpe ou se assumirá como bravateiro? Minha aposta é que contará com o esquecimento da opinião pública, que é o refúgio de todo político que falta com a verdade.

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