O fim do silêncio

10/09/2021 às 18:51.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:51

Ontem ocorreram manifestações pelo impeachment de Bolsonaro. Importantes e simbólicas, independentemente do número de pessoas nas ruas ou de comparação com as ocorridas no dia 7 de setembro. Organizadas, pela primeira vez, por pessoas não ligadas à esquerda, muitas delas ex-eleitoras de Bolsonaro.

Compareci à de BH, contra o conselho de muitos que me disseram que me expor em pauta tão controversa me faria perder apoio político e que seria melhor, sob a ótica eleitoral, manter-me em silêncio. Concordo que ao comparecer arrisquei parte do meu capital político, mas compareci porque minha consciência não me deixou alternativas.

Como cada vez mais brasileiros, vi com insatisfação o presidente abandonar a agenda liberal de sua campanha. Vi com desgosto a entrega de seu governo para o Centrão, culminando com a nomeação de Ciro Nogueira, que já declarou que pretende votar em Lula, para ser ministro da Casa Civil. Vi com preocupação as nomeações que fez para a PGR e o STF, e o enterro da Lava-Jato. Vi com revolta a interferência na PF e na ABIN para blindar seus filhos.

Como tantos, vi tudo isso calado, mas chega um momento em que o silêncio é traição. Esse momento chegou para nós em relação ao governo Bolsonaro.

A omissão de meses para responder a Pfizer sobre a compra de vacinas, contrastada com a agilidade das negociações com a Covaxin e seus obscuros intermediários, deixa claro que o governo colaborou para o atraso do início de nossa vacinação e pela lentidão de seus primeiros meses. A queda acentuada no número de mortes após o avanço da vacinação mostra que muitos brasileiros que perderam a vida ou entes queridos teriam outro destino se tivéssemos outro governo. Bolsonaro tem que cair.

As manifestações de ontem não farão, sozinhas, a queda acontecer. São, antes, um primeiro passo, e para avançar é necessário reconhecer a justiça de algumas das demandas de quem esteve nas ruas no dia 7, em especial as relativas ao inquérito no qual o STF é ao mesmo tempo vítima, acusador e juiz, e trazer essas pessoas para perto, rompendo a polarização.

É necessário, também, mostrar aos insatisfeitos que ainda não conseguem enxergar um caminho diferente do atual que o objetivo vai além da simples queda de Bolsonaro e busca construir uma via que permita a realização das ações e reformas necessárias para o “Brasil real” enfrentar seus problemas mais urgentes: pandemia, desemprego, inflação, aumento da pobreza e da fome.

E, aos que receiam que mais um impeachment possa gerar instabilidade, prejudicar as reformas ou ajudar na volta da esquerda ao poder, lembrar que Bolsonaro é hoje a maior fonte de instabilidade do país e maior obstáculo às reformas com as sucessivas crises que provoca, e o principal cabo eleitoral de Lula, pela rejeição que possui.

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