Religião X Liberdade de Expressão? Parte II

20/01/2020 às 09:50.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:21

Liberdade de expressão é fundamental e tentativas de censura são improdutivas e danosas à sociedade. Semana passada destaquei como, em tempos de internet, ataques à liberdade de expressão são ruins na prática por produzir um “efeito Barbra Streisand” (vale a pena googlar isso!) e ajudam a divulgar e a tornar conhecido o alvo da censura, aumentando sua audiência. O Porta dos Fundos faz “especiais de Natal” com sátiras ao cristianismo desde 2013, mas a quase totalidade dos brasileiros só ficou sabendo deste último, que foi objeto de tentativa de censura.

Destaco hoje como ataques à liberdade de expressão são ruins também enquanto princípio. Como prejudicam a convivência social muito mais do que a presença de discursos até mesmo ofensivos pode fazer.

Liberdade de expressão é importante para quem fala. É importante para que a pessoa possa canalizar suas críticas e insatisfações de maneira pacífica e buscar, através do diálogo, e não da violência, a mudança que deseja na sociedade.

Liberdade de expressão também é importante para quem escuta. Ouvir algo que discordamos é desagradável e, muitas vezes, pode ser até ofensivo. Ainda assim é importante escutar. Se rejeitarmos 95% das críticas e dos discursos, mas 5% nos levarem a reflexões que nos permitam avanços, terá valido a pena. Para esses 5% existirem, contudo, é necessário que haja liberdade para 100% das críticas, incluindo as que nos ofendem.

Isso não quer dizer que a liberdade de expressão seja um direito absoluto, mas apenas que sua limitação não deve estar no que pode ofender alguém. Há pessoas demais no mundo e alguém sempre poderá ficar ofendido com o que o outro diz.

Um dia já foi ofensivo dizer que olho por olho, dente por dente era errado e que diante de uma agressão era necessário oferecer a outra face. Que deveríamos amar até mesmo nossos inimigos. Quem disse isso foi crucificado.

O limite também não pode estar em “critique tudo, menos religião”, porque existe liberdade de crença e qualquer pessoa pode fundar uma nova religião. Pode, por exemplo, seguindo o exemplo da Igreja Maradonista da Argentina, criar uma que professe a divindade de Lula ou Bolsonaro, e não caberá ao Estado, que é laico, classificar essas religiões como menos sérias ou menos importantes.

Liberdade de expressão é o que nos move adiante. Cada sociedade, a seu tempo, acreditava ser o modelo ideal, mas cá estamos, com Declaração Universal dos Direitos Humanos e muito diferentes de como éramos na Idade das Trevas. Tudo graças aos críticos, aos insatisfeitos, aos que fizeram uso da palavra, correram o risco de ofender alguém e provocaram mudança. Não podemos retroceder agora.

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