Um brinde à liberdade!

15/07/2019 às 09:00.
Atualizado em 21/11/2022 às 19:11

Semana passada o governo federal editou o Decreto nº 9.902/19 e alterou as regras para fabricação de cerveja no país. À primeira vista a impressão foi que todos os limites à utilização de milho ou arroz, à adição de álcool, de água, de espuma artificial ou substituição do lúpulo foram removidos. Que virou zona.

Nada mais falso. O Decreto nº 9.902/19 retirou essas regras do Decreto anteriormente existente (o Decreto nº 6.871/2009), mas elas continuaram existindo na Instrução Normativa n° 54/2001, do Ministério da Agricultura. Na realidade, só o que mudou foi que passaram a ser permitidos o uso de mel, leite e chocolate na fabricação de cervejas especiais.

Apesar disso, não faltaram matérias dando a notícia falsa, algumas inclusive na grande mídia tradicional com “especialistas” alertando que tudo era um poderoso lobby das grandes cervejarias para usar ingredientes mais baratos e lucrar mais. Devem ter recebido chuvas de cliques e compartilhamentos. O assunto viralizou em grupos de whatsapp e provocou discussões apaixonadas. Não foi o caso do Hoje em Dia, que publicou a notícia de forma completa e informativa. Um brinde à histeria, que às vezes chega a ser engraçada! E outro, muito maior, ao jornalismo sério, que tanta falta faz ao país!

Mas e se fosse verdade? Sou apaixonado por cerveja e pelos ótimos momentos que uma mesa de bar cheia de amigos proporciona. Fui apresentado para o universo das artesanais pela amiga Clarissa Mendes, da Confraria Feminina da Cerveja, e particularmente prefiro as IPAs. Meu amigo Cadu Gazzinelli, excelente cirurgião plástico de Viçosa, prefere cervejas de trigo. Mamãe é da velha guarda e prefere Brahma.

Se amanhã fosse liberada a fabricação de cervejas com mais milho, espuma artificial ou o escambau, nossos gostos mudariam? Se nossas marcas preferidas passassem a usar ingredientes mais baratos, perdendo qualidade, continuaríamos consumindo algo que não nos agrada? Ou, como consumidores livres, não mudaríamos de marca e faríamos o eventual fabricante ganancioso pagar com prejuízo pela busca cega (e burra) pelo lucro?

Ao mesmo tempo, é correto nós, que preferimos IPA, trigo ou Brahma, obrigarmos todos a consumir só o que gostamos? Impedir que alguém forneça e que alguém consuma livremente um produto mais barato, caso essa seja sua escolha? É urgente superarmos a cultura de querer regular tudo. Chega de burocracia! É urgente começarmos a respeitar de verdade as diferenças e as escolhas que cada um faz livremente. Um brinde, o maior de todos, à liberdade!

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