O poder e o caráter

20/08/2021 às 17:21.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:43

Dizem que o poder corrompe as pessoas. Será que corrompe de fato ou revela o verdadeiro caráter? A maioria das pessoas, mesmo as mais calmas, quando têm suas ideias ou convicções questionadas, perdem o controle e muitas vezes ficam agressivas. Essa reação mostra quem somos ou é apenas um mecanismo de defesa?

Gente que pregou sempre a socialização do poder, as direções coletivas, a construção de consensos mediante a discussão democrática e a persuasão, criticou sempre a violência verbal, a ofensa, o maltrato às pessoas – de repente, vê um cargo de poder cair no seu colo, revela falta de caráter, renega tudo o que aparentemente defendia, se encanta pelo poder e se torna um déspota.

O poder lhes sobe à cabeça e lhes invade a alma. Todas as frustrações e os complexos de inferioridade acumulados por não ter méritos para um protagonismo de primeiro plano, de repente, irrompem sob a forma da prepotência, da arbitrariedade, da concentração brutal do poder, de maltrato das pessoas, do uso do poder das formas mais arbitrárias possíveis.

Tem gente que se humaniza ainda mais quando assume funções públicas, aumenta sua modéstia, suas formas humanas de relação com as pessoas. Têm outras em quem o poder bota pra fora o que de pior estavam acumulando. Se transtornam, tornam-se monstros, que acreditam que o poder é um porrete, de que fazem uso a torto e a direito, contra todos.

Não conseguem conviver com a diferença. Diante de divergências, buscam fazer com que desemboquem na ruptura, valendo-se do poder formal dos decretos, das punições, da exigência de retratações formais. Não tem estrutura psicológica para conviver com as diferenças, para buscar coesão entre diferentes. Logo descambam para a violência, verbal e dos decretos.

Pensam que dominam tudo com seus cronogramas e convênios, mas não controlam nada. Tudo acontece a seu redor sem que eles saibam. Vivem num mundo vazio, que não podem parar, para não se dar conta que é vazio. Pulam no abismo para seu fim.
Não conseguem pensar-se a si mesmo sem esse poderzinho. Tentam perpetuar-se pela inércia porque, fora desse lugar, não são nada. Ali também não são nada, mas se enganam, se iludem que são. Apodrecem no exercício das funções burocráticas e aí morrem.

São personagens que terminam como o canalha do Nelson Rodrigues: solitários, sem ninguém, agarrados ao único que lhe resta: a caneta e a escrivaninha.

Os burocratas morrem em vida, afogados pela sua mediocridade. Passam pelos cargos sem pena nem glória, esquecidos e desprezados por todos. Saem menores do que entraram. Se dão conta aí que já não serão nada na vida.

Essa é a vida e a morte dos burocratas. A vida segue, feliz, sem eles.

O maior é sempre o que serve e, assim, todos os que exercer autoridade deveriam se portar. Servindo aos que confiaram seu voto a eles.

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