Se os estádios de futebol falassem, quem seria culpado?

10/01/2020 às 15:48.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:15

O Estado, a prefeitura, os times, a partida. Vários culpados são apontados diante dos episódios de vandalismo nos estádios do nosso país. Mas, para além do apontar de dedo influenciado por interesses próprios, é necessária uma reflexão acerca de atitudes humanas reveladas neste cenário. Há um pensamento que diz que presentes de maior qualidade costumam ser mais bem cuidados. Este pensamento, apesar de parecer infeliz, pode ser realidade em muitos casos, mas não em se tratando dos estádios de futebol.

O que vemos são estádios e campos que receberam investimentos e reformas (mesmo que tardios e sob longas cobranças), ser totalmente desvalorizados e destruídos sem a menor empatia e sensibilidade. Em dezembro do último ano, assistimos a cenas tristes após o jogo Cruzeiro x Palmeiras, partida que acabou resultando no rebaixamento do mineiro. Banheiros, cadeiras, televisões e bebedouros foram totalmente destruídos. E a culpa foi de quem? Da partida mal sucedida? Do desempenho dos jogadores? Da falta de seguranças?

Episódios como este não são novidade e revelam um aspecto triste em nossa sociedade: a falta de respeito. Quem não sabe respeitar não o faz em qualquer situação, e temos, sim, que falar sobre isso, pois tantas áreas de nossa sociedade são afetadas dolorosamente por isso.

Estamos “evoluindo” da forma como deveríamos?  Em 2019, realizei inúmeras visitas técnicas para fiscalizar as condições de acessibilidade de escolas, ruas e estádios, a fim de que possamos avançar para uma cidade mais inclusiva. Na Arena Independência, reconhecemos os investimentos de cerca de R$ 1 milhão nos últimos sete anos feitos pelos gestores e encontramos banheiros, assentos, catracas e elevadores acessíveis à pessoa com deficiência.  A administração do espaço ressaltou, porém, que o principal desafio à acessibilidade ainda seria o comportamento do torcedor (em geral), que tem como cultura assistir ao jogo de pé, subindo no assento e atrapalhando a visibilidade dos cadeirantes.

Como podemos perceber, a falta de empatia e respeito são características que ainda representam desafio enorme em vários sentidos e que nos limitam enquanto coletividade.  É espantoso vermos que as pessoas destroem aquilo que pertence a elas mesmas; que pedem o que não dão; que cobram o que também não fazem e que desprezam e desrespeitam seus semelhantes.

Uma partida de futebol deveria unir, trazer alegria e momentos valiosos de lazer. Mas, muitas vezes, não é isso que vemos. Em meio a tantos títulos, o Brasil conquistou o de país com mais mortes em brigas de torcidas. O país do futebol vê seu Maraca, Mineirão ou Morumbi serem sinônimos de insegurança e medo. Precisamos repensar nossas atitudes enquanto seres humanos que avançam em um caminho de autodestruição e completa falta de respeito à vida que temos.  

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