À procura de um "furacão"

28/02/2018 às 13:34.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:37

Há dois anos fui convidado para dar uma conferência na Universidade Vanderbilt, em Nashville, nos EUA. Minha conferência ocorreria à tarde e eu poderia assistir outra que haveria pela manhã, com o Prof. Ethan de Mesquita, da Universidade de Chicago. Ele desenvolveu um complexo modelo matemático formal para analisar a seguinte situação hipotética: a) em duas cidades vizinhas às margens do Golfo do México, os prefeitos estão em situações totalmente diferentes, pois o primeiro tem um elevado nível de popularidade e o segundo um baixo nível; b) as duas cidades são atingidas por um furacão; c) quais as implicações políticas para os dois prefeitos?

A resposta óbvia e que também resultou da modelagem do Prof. Mesquita é: o furacão será ruim para o prefeito com elevada popularidade e será bom para o prefeito com baixa popularidade. Isso porque o prefeito com elevada popularidade se arriscaria a perdê-la se a reação de sua administração aos problemas gerados pelo furacão fosse vista como deficiente pelos eleitores, ao passo que o prefeito com baixa popularidade teria, com o furacão, a chance de ter iniciativas de reação aos estragos que fossem bem vistas pelos eleitores.

Portanto, “furacões” representam oportunidades de redenção para políticos mal avaliados pelos eleitores. Se o destino não providencia o “furacão”, muitas vezes os políticos dão um jeito de fazê-lo.

Um caso bastante conhecido foi o de George W. Bush. Ele estava mal avaliado pelos eleitores e tudo indicava que não seria reeleito. O destino, contudo, lhe providenciou um “furacão”, a explosão do World Trade Center, em 11/09/2001. Não satisfeito com seu “furacão”, G. W. Bush decidiu aumentar sua ferocidade, invadindo o Iraque sob alegações que, depois, soubemos serem falsas. No caso dele, deu certo e ele foi reeleito.

A intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro é o “furacão” que o governo Temer conseguiu inventar. Com a incapacidade de realizar a reforma da Previdência, o governo Temer havia acabado praticamente um ano antes do fim oficial. Alguém, então, teve a ideia de inventar esse “furacão”. Assim como no caso de G. W. Bush e sua invasão do Iraque, um “furacão” baseado em justificativas falaciosas. Afinal, os dados sobre violência pública no Brasil mostram claramente o Rio de Janeiro está longe de ser o caso mais graves de insegurança do país. Também como no caso da invasão do Iraque, faz-se uma intervenção militar bilionária e com agressão aos direitos humanos. O “furacão” de Temer vai salvá-lo de concluir seu governo de forma melancólica? É pouco provável, mas ele e seus auxiliares devem ter pensado que vale a pena tentar, pois não têm nada a perder (ao contrário de boa parte dos moradores do Rio de Janeiro).

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