O preço da civilização

20/07/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:39

Sempre me chama a atenção o comportamento de vários parentes e amigos que viajam ao exterior, voltam encantados, mas não estão dispostos a pagar o preço do processo civilizatório aqui no Brasil. A civilização custa caro para a elite!

De modo geral, os membros da elite brasileira (incluídos aí os ricos e o estamento burocrático e profissional, a chamada “classe média tradicional”) não querem reconhecer que um elevado padrão civilizatório requer que eles paguem uma proporção alta de seus rendimentos em impostos. Mesmo sendo os EUA um dos países desenvolvidos com menor padrão civilizatório (provavelmente, o país desenvolvido com menor padrão civilizatório, visto indicadores como o alto nível de desigualdade, as taxas de criminalidade, pobreza e mortalidade infantil, bem como a proporção da população encarcerada, entre outros), tem um sistema tributário menos regressivo do que o nosso.

Como professor universitário, meus rendimentos alcançam a alíquota mais alta de imposto de renda, 27,5%. Já tive a oportunidade de lecionar por duas vezes em universidades dos EUA. Da segunda vez (a primeira já faz muito tempo, então não me lembro), paguei 35% de imposto de renda sobre o meu salário (que era equivalente ao que recebo aqui).

É verdade que minhas filhas frequentaram uma escola pública e gratuita de boa qualidade, mas esse benefício não conseguiu superar o custo absurdo com saúde que tínhamos que arcar, em função de inexistir um sistema público nos EUA. Na Europa, todos têm acesso a bons serviços públicos de educação e saúde, porém as alíquotas de imposto de renda são ainda mais elevadas do que nos EUA. Um professor universitário com salário equivalente ao meu paga 40% de imposto de renda na Inglaterra e cerca de 50% nos países escandinavos. 

Se nós membros do estamento burocrático e profissional pagamos menos imposto de renda do que nossos congêneres em países com elevado nível civilizatório, o que dizer dos muito ricos? O Brasil é um paraíso fiscal para eles! Estudo recente da Receita Federal mostra que os “super ricos” (0,1% mais rico do país) pagam apenas 9,1% de sua renda em imposto, ao passo que os 0,9% seguintes (os dois grupos juntos compõem o que se costuma chamar de “os muito ricos”, ou seja, aqueles que estão entre o 1% com maior renda) pagam 12,4% (entre as maiores economias do mundo só na Rússia e na Arábia Saudita os ricos pagam menos imposto). A renda tributável do grupo do 1% mais rico no Brasil é 2,4 maior do que dos 50% mais pobres. Fica claro assim que a busca de um equilíbrio fiscal deve ser feita sobre os rendimentos desses indivíduos e não reduzindo direitos dos mais pobres!

P.S.: Outra característica de países civilizados é que neles juízes não condenam pessoas quando não há provas.

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