Ponte para a barbárie

02/08/2018 às 09:44.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:43

Este final de semana, caminhando por uma avenida da região da Pampulha, passei por uma calçada larga que costumava ser um lugar aprazível para caminhar, mas agora está ocupada por moradores de rua. Longe de culpá-los, senti uma dor solidária por aqueles concidadãos. 

Faz dois anos que o Brasil começou uma travessia rumo à barbárie. Um dos indicadores mais visíveis desse caminho é justamente o aumento da população de rua. Li na grande mídia que o prefeito de São Paulo decidiu antecipar o censo dos moradores de rua, justamente por causa das evidências de que houve uma enorme elevação no número de pessoas nessa situação.

O economista Sergei Soares, do Ipea, e seus colaboradores mostraram, em um trabalho publicado em 2010, que durante toda a década passada, os programas de transferência de renda (o Bolsa Família e seus antecessores) tiveram especial relevância em momentos de crise econômica. “Entre 1999 e 2003, os programas antecessores ao Bolsa Família evitaram 40% do aumento da pobreza que teria ocorrido na sua ausência. Entre 2001 e 2003 eles inverteram a tendência das rendas oriundas do mercado de trabalho e levaram a uma pequena redução da pobreza. De 2007 a 2009 o benefício do Bolsa Família inverteu a tendência da pobreza extrema, levando a uma queda que não teria ocorrido sem estes benefícios”. 

Em momentos de crise, os programas de transferência direta de renda são o melhor remédio contra a pobreza

O trabalho de Soares e colaboradores mostra que, em momentos de crise econômica, os programas de transferência direta de renda são o melhor remédio contra a elevação da pobreza. Mostra também que sua extensão e efeitos positivos foram crescentes ao longo da década passada. E o combate à pobreza tem impactos em diversas dimensões sociais e econômicas.
Recentemente, ficamos sabendo que a mortalidade infantil voltou a crescer no país. Esse é outro triste indicador de nossa ponte para a barbárie. Tem presidenciável pensando que a mortalidade infantil está ligada apenas à saúde bucal das parturientes. A coisa é muito mais complexa! Observe-se que, enquanto o aumento da taxa de mortalidade infantil de crianças de 0 a 1 ano, no Brasil, foi de 2%, entre aquelas de 1 a 4 anos a elevação foi de 11%. A causa mais provável? Aumento da pobreza e redução da proteção social!

​O Bolsa Família é um programa extremamente barato! Se, no lugar de atender às demandas dos mais privilegiados grupos de interesse do estamento burocrático e profissional, dos rentistas e das oligarquias políticas, o governo Temer tivesse ampliado o Bolsa Família e expandido o sistema nacional de proteção social, teria – mesmo em um momento de crise profunda – reduzido a pobreza e impulsionado a recuperação econômica a partir do consumo dos mais pobres, gerando um novo ciclo virtuoso. Escolheu outro caminho: a ponte para a barbárie! 

 

  

  

  

  

  

  

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