Sobre Jean Wyllys e Murilo Portugal

05/04/2017 às 21:06.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:01

A boa notícia de ontem foi a absolvição do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) no Conselho de Ética da Câmara pela cusparada que desferiu no colega Jair Bolsonaro (PSC-RJ), durante a sessão de votação do impeachment de Dilma Rousseff.

 O relatório sobre o caso, do deputado Ricardo Izar Jr. (PP-SP), era duro e sugeria a suspensão de Wyllys por 120 dias. Izar qualificou o ato de “torpe” e afirmou que o cuspe teria “maculado o prestígio do Parlamento”. Sim, foram essas as palavras. Maculado o ‘prestígio’ do Parlamento.

 Wyllys, um dos mais aguerridos parlamentares, é homossexual assumido. No dia do impeachment, quando subiu à tribuna para discursar em defesa de Dilma, Bolsonaro se posicionou provocativamente poucos metros à sua frente. Enquanto Wyllys discursava, Bolsonaro repetia agressões homofóbicas: “veadinho”... “franguinha”... “bichinha”... “queima rosca”...

 E então veio a cusparada.

 Naquele dia, acompanhando o julgamento de Dilma pela televisão, a cena da reação de Wyllys me remeteu a outra que presenciei no início da carreira de jornalista. Numa delegacia, eu acompanhava a condução de uma transexual injustamente presa. Revoltada, ela resistiu em ir para a cela. Foi derrubada e imobilizada por quatro ou cinco policiais. Começou, então, a distribuir cusparadas, que era o que lhe restava.

 Em sua página no Facebook, Wyllys comemorou o resultado do julgamento. “Vencemos! O parecer do relator, que pretendia suspender o nosso mandato, foi derrotado por 9 votos a 4. Com a força da mobilização social, nosso mandato segue firme na luta pelos direitos das populações mais vulneráveis, os direitos humanos e as liberdades individuais”.

 A piada do dia

A piada de ontem veio da fala do presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, durante o evento Brazil Investment Forum, uma espécie de seminário para banqueiros realizado em São Paulo. Tentando justificar porque os juros ao tomador final não caem, apesar dos cortes do Banco Central no juro básico da economia, ele colocou a culpa na inadimplência.

O senhor tomaria um empréstimo pagando estes juros, Murilo Portugal?

  

“Cerca de 56% do spread (a diferença de quanto os bancos pagam para captar dinheiro e o quanto cobram para emprestar) pode ser explicado pelos custos da inadimplência. Além disso, há custos tributários, operacionais. O lucro dos bancos é 23% do total”, explicou. É engraçado como a cara de alguns não queima, principalmente a de banqueiros. Falam absurdos na maior naturalidade. Mas, cá pra nós Murilo Portugal, quem você acha que está enganando?

 A verdade é que o lucro dos bancos no Brasil é uma imoralidade, que a concentração da riqueza nacional no setor bancário é um câncer e que os juros cobrados pelos bancos são combinados. Todos sabem que os cinco grandes bancos brasileiros compõem um cartel. O spread não cai não em função da inadimplência, mas por conta da falta concorrência e da conivência do Banco Central e do governo como um todo.

 A inadimplência no Brasil é de fato alta, mas explicada pelos juros impagáveis cobrados pelos bancos. Dizer que os juros são altos por que a inadimplência é alta é falácia, é inverter o raciocínio correto, é mentira. Não cola. A taxa Selic está hoje em 12,25% ao ano, senhor Murilo Portugal. E os juros médios cobrados pelos bancos ­ repito, juros médios ­ são de 444% no rotativo do cartão de crédito, de 307% no cheque especial, de 71% nos empréstimos pessoais, segundo a última pesquisa da Anefac, relativa a fevereiro. O senhor tomaria um empréstimo pagando estes juros, Murilo Portugal?

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