Analfabeto social aprovado em concurso

16/03/2021 às 18:05.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:25

No dia 29.7.2020, escrevi nesta coluna o artigo “a carteirada do desembargador”. Lembrei a etimologia de “carteirada”, que sugere um golpe contra o oponente por meio da carteira funcional, tal como paulada, panelada, etc. É por isso que a palavra designa, por exemplo, conflitos em que se tenta resolver com  ostentação de autoridade. 

Foi o caso do Desembargador que esbravejou e humilhou um guarda municipal. O motivo: a solicitação educada de colocar a máscara contra a pandemia. 

Atitudes reprováveis como essa são motivadas por sentimentos mesquinhos de quem, para se sentir importante, necessita humilhar um semelhante. E pensar que, na maioria dos casos, o ocupante de tão importante cargo precisa passar no concurso para Juiz de Direito.

Digo “na maioria dos casos” porque há uma fração dos cargos de desembargador que é ocupada por advogado indicado pela OAB. Mesmo assim, os ocupantes desse cargo são formados em Direito, e devem ter o requisito de conduta proba e irrepreensível.

Mas existem pessoas, com certeza por minoria, que se formam nas mais elevadas faculdades, que exercem ocupações de prestígio, mas, tomadas por vaidade, não conseguem entender seu papel social. E só se sentem importantes quando humilham alguém.

Muito se fala, atualmente, em “analfabeto funcional”, ou seja, aquele que decifra as palavras, mas não entende o texto que acabou de ler. Porém existe um analfabetismo ainda pior: é o do analfabeto social: aquele que, mesmo com elevada formação, mesmo ocupando cargo de elevado prestígio, não é capaz de entender o seu papel social. 

Convém reprisar: a imensa maioria das autoridades públicas é composta de pessoas educadas. É assim, de modo especial, entre os desembargadores.

Uma minúscula minoria, por mais claro que seja o texto constitucional e de outras leis, que definem o papel social de cada um de nós, não entende os limites das suas atribuições. Ou, no caso em comento, por mais clara que sejam as normas de obrigatoriedade do uso de máscara contra a pandemia, não consegue se comportar de acordo com essas normas.

Então, para você que se prepara para os concursos, que estão voltando a todo vapor, nunca se esqueça dos limites impostos ao exercício da sua autoridade. E é fácil identificá-los. Basta que você seja educado, no sentido mais amplo do termo. Basta que você não seja um analfabeto social. 

A meus alunos(as), leitores(as) e seguidores(as) eu desejo bons estudos. 

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