Concursos são republicanos

22/04/2017 às 20:30.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:15

 Circula nas redes sociais um artigo de Guilherme Perez Cabral, advogado especialista em Direito Educacional, doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito. Ele não é a primeira, nem será a última pessoa a defender o fim concursos. Ao falar que o acesso a um cargo público no Brasil “passa pelo (des)caminho dos concursos”, ele acaba se contradizendo ao afirmar que tal acesso “não tem curral eleitoral, nem é indicação de algum dono do poder”. Bem, que bom que os cargos públicos não dependem de curral eleitoral nem de indicação de um poderoso.

Ao designar os candidatos como “cidadãos da república concurseira”, ele não aponta qual seria a alternativa às provas de seleção. E dá conselhos irônicos: “Deseduque-se. Imbecilize-se por um tempo. Não perca tempo com os problemas e a solução dos problemas do Brasil”. E teoriza que quem estuda “oito horas por dia pode virar... Juiz de direito” e “decidirá sobre vidas, sem nenhuma experiência de vida”. Ora, por acaso apenas a experiência de vida basta? Isso dispensa os estudos?

Não é por acaso que “choveram” reações dos internautas. Muitos levantaram a hipótese de o autor ser um candidato frustrado, incapaz de alcançar a aprovação no concurso que almeja. E, considerando as críticas que dirigiu a uma juíza, podemos matar a charada: ele queria mesmo é ser juiz.

Doutor Guilherme Perez, como o Senhor é contra essa conquista da Revolução Francesa, desconsidere os clamores de “égalité, fraternité et liberté” previstos no artigo 6º da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão: “Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos”.

Sugiro uma boa estratégia para o Senhor defender suas ideias, demonstrar a competência de seus títulos e responder às insinuações dos internautas: faça o concurso da magistratura. Vença todas as etapas, desde as “cruzinhas na questão correta” que o Senhor critica até as redações, provas orais e entrevistas. Depois, renuncie ao direito de nomeação por não concordar com a forma de seleção dos candidatos.

Mas, caso opte por não seguir esta sugestão, esteja certo de que nossa República, ao contrário do o Senhor disse com desdém, não é concurseira. Também não é das bananas e nem tupiniquim, como infelizmente alguns críticos costumam dizer. Nossa República, apesar dos problemas que temos, pode se orgulhar da instituição dos concursos. Eles ainda não são perfeitos. Mas, sem eles, o nepotismo tomaria conta da Administração Pública. E não é isso que o Senhor quer, não é mesmo?

Enfim, Doutor Guilherme Perez, nossa República não é concurseira. Os concursos é que são republicanos, propiciando oportunidades iguais para todos.

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